sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Frutuoso Gomes, os celulares e o progresso.

Frutuoso Gomes, pequena cidade com pouco mais de 4 mil habitantes, localizada no interior do Rio Grande do Norte, vivenciou um fato histórico durante essa semana.
O local, onde antigamente, podia se dormir com as portas abertas, vem enfrentando uma onda de violência nos últimos anos (sinal de progresso, afinal, toda cidade grande que se preze tem essas características), mas nada muito explícito, casos de roubos de porcos e galinhas, furtos, e coisas assim.
Claro que também têm as desavenças entre famílias e grupos, o que acaba gerando uma onda de combates ameaças e até assassinatos. Mas isso, bom, isso é bem interiorano.
De fato, em Frutuoso Gomes, até pouco tempo atrás, se você não mexesse com ninguém, não se metesse a besta com moça de família, não tivesse inimigos, nem opinião política opositora, podia sim viver em paz.
Até que chegou um tal progresso ao lugar e trouxe com ele dois avanços: tecnologia e violência de cidade grande.
O celular, mais popular que pão com ovo, veio chegar a região há pouco tempo, cerca de 1 ano e meio mais ou menos. E celular na mão de gente nas ruas atrai o quê?
Se você disse namoro, você errou e certamente nunca morou numa cidade grande.
Se você respondeu sorte, também errou, nunca morou numa cidade grande e certamente é um daqueles tipinhos supersticiosos.
Agora se você respondeu ‘pila’,’ vagaba’, marginal, assaltante, bandido ou coisa do tipo, você realmente entende de assuntos de cidades grandes.
Em frutuoso Gomes foi possível viver em paz com os celulares... Foi!
Essa semana a cidade que até então só tinha visto violência explícita na zona urbana em ano eleitoral, presenciou seu primeiro Assalto a mão armada. E o que levaram?
Um celular!
(e um monte de outras coisas também que não cabe citar aqui).
Agora, com status de cidade grande, Frutuoso Gomes caminha rumo ao progresso de diversas outras cidades do nosso país.


Aonde vamos parar? Se nem no lugar onde se costumava andar tranquilamente a qualquer hora do dia ou da noite é possível ter paz hoje em dia, aonde vamos encontrá-la? 


Isso é Brasil. Isso Progresso? 





sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

A equilibrista


Houve o silêncio por um longo espaço de tempo, depois o medo, a curiosidade e o desejo.
O suar das mãos, o frio e o calor alternados por segundos,
Batimentos apressados,
E seu corpo, e seus sentidos já não pertenciam mais somente a ti.
Foi a primeira vez que entrou no picadeiro.
Embora frágil, embora assustada, ela enfrentou a plateia faminta pelo sucesso ou pelo fracasso,
Não haveria meios termos, ela sabia.
Mas de certa forma, o medo que sentia era algo vicioso.
Em verdade, o medo fomentava sua coragem.
Familiares, amigos e curiosos a observavam de longe, mesmo sem admitir, nenhum deles acreditava que aquilo pudesse vir a dar certo.
No entanto, ela não desistira sem tentar. Munida então de uma coragem nunca antes por ela experimentada que era ligada a importância que aquilo tinha em sua vida, ela então iniciou o ato...
... e encantou a todos! Caminhava sobre a corda bamba sem temer os próximos passos. E acreditem, de olhos vendados. Atirou-se no escuro, para o mais belo ato de sua vida, os riscos aumentavam a cada passo, mas estava fascinada por aquilo.
Chegando ao outro lado a euforia foi enorme. Nem mesmo ela sabia se concluiria o trajeto, a corda era inconstante e não foi fácil compreender suas oscilações.
Aplausos, gritos e assovios cobriam a jovem equilibrista de glória e realização.
Caminhou algum tempo deixando que a corda a levasse, conduzida pela intuição e fazia isso com tanta naturalidade que parecia realmente levitar.
E eis que de repente velhos sentimentos voltaram a rondá-la.
Houve o silêncio por um longo espaço de tempo, depois o medo, a curiosidade e o desejo...
Desejo de apagar todas essas dúvidas.
O suar das mãos, o frio e o calor alternados por segundo,
Batimentos apressados,
E seu corpo, e seus sentidos já não obedeciam mais.
Foi a última vez que entrou no picadeiro.
Dessa vez não havia confiança, não havia mais fascínio.
O encanto havia se quebrado ou se perdido em algum lugar
Tudo que restara eram as incertezas
A corda também estava cansada, pisoteada poderia não mais aguentar.
A plateia confiante já preparava os aplausos.
Ela entrou no picadeiro fez uma reverencia a todos, encarou a corda, e foi como se a mesma retribuísse o olhar. Era o momento das duas, se uma fracassasse a outra também falharia.
A equilibrista então vendou os olhos como na primeira vez e iniciou a performance.
Lançou-se outra vez no escuro da incerteza e desta vez não estava segura.
A cada passo, quanto mais ela forçava, mais a corda cedia e se enfraquecia, sabia que aquele atrito era provocado por seu corpo e questionou se levaria o ato adiante.
Havia duas opções ali, na metade do caminho: ir em frente, ou desistir.
E naquele momento ela soube que estava diante das piores escolhas que avida pode nos impor nos colocando entre o que amamos e o nosso amor próprio.


quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Silêncio sem face

Havia uma donzela de feições leves e presença forte.
Havia uma figura indefinida e sem rosto.
Qualquer afeto entre esses dois seria estranho
A figura a rondar a jovem mulher
Face a face: Eis o encontro.
Logo após a indiferença.
Ficou ali paralisada diante daquela figura
Se naquele momento ela pudesse ouvir o tamanho de sua dor, ensurdeceria com o eco de seus gritos. 
A bela donzela, porém não percebeu.
Nada percebeu.
E assim passaram-se os tempos, Até que um dia quis saber o paradeiro daquele ser que lhe rondava. Ouviu apenas uma voz vinda de seu subconsciente: ela se foi.
E realmente a pequena figura sem face havia se perdido, desapareceu dentro de si, sucumbiu em suas mágoas e no silêncio de sua dor.