sábado, 30 de julho de 2011

Alivia-me, poesia


Nela, e só nela encontro a calmaria que preciso.
E Minh ’alma já não é mais tão sozinha,
E minha vida já não é mais tão vazia.

Pois ela liberta-me e me renasce em cada verso.

Encontro-me em seus retratos e nos abraços de seus passos.
Só assim me fortaleço e enfim esqueço.
E só assim eu me refaço
Das angustias e agonias por que passo.

Pois em teus braços eu afogo a nostalgia
Como se arrancasse de mim essa aflição
E a deixasse largada e adormecida em cada linha que me tange
Deixando a alma mais leve ao livrar-me das palavras e sentimentos
Que transcrevo para ela com meu sangue.

terça-feira, 26 de julho de 2011

Café com Roberto Carlos

Aviso logo de início aos fãs do cantor Roberto Carlos, que não, eu não me encontrei nem tomei café com ele, até porque essa história de “um café pra nós dois” (Como já satirizava o Renato Aragão) comigo não rola, detesto miséria, pra mim cada um tem que ter o seu próprio café. “Mas essa história também é interessante”.
Sabe aqueles dias em que você acorda já ou ainda morrendo de sono? Pois é, um dia desses acordei assim, e atrasada para um compromisso importante. Decidi então não tomar café em casa, pois moro sozinha, logo, teria eu mesma que fazer o tal café, isso além de tempo demandaria esforço, e esforço nesse dia era uma palavra que já estava esgotada em meu vocabulário. Só o fato de estar acordada, ou pelo menos parcialmente acordada, já era o bastante para que não fosse justo o dia me cobrar qualquer outro tipo de esforço.
Pois bem, botei meus óculos escuros para encobrir as olheiras e saí de casa. Fui à lanchonete da esquina, bonitinha, limpinha, fiquei até admirada, pois a cozinha deles é aberta e todos os clientes podem ver como está sendo preparada a comida.
Sentei no balcão (numa cadeira ao lado do balcão e não em cima do balcão. Pode parecer desnecessário esse tipo de explicação besta, mas acredite, não é. Isso vindo de quem já fez de quase tudo nessa vida) e pedi qualquer coisa que não tenha carne (não como bicho morto). Logo me veio a primeira e mais trivial irritação do dia e de toda vez que procuro algo para comer fora de casa. A mulher da lanchonete olhou pra mim e teve a audácia de dizer: “tem esse aqui com frango e catupiry, esse de presunto e esse é só com salsicha”. Me subiu uma veia na testa, mas tive que me conter, afinal, já deveria ter me acostumado, um vegetariano é, antes de tudo, um forte. Em todo lugar que você chega e pede algo sem carne pra comer as pessoas te oferecem frango, presunto, linguiça... Teve até uma mulher uma vez que ousou me oferecer carne de porco como opção. Carne de porco não é carne? Presunto, frango e afins também não?
Enfim, diante dessa constante me acostumei com a ignorância de alguns e a desinformação de outros e costumo sempre perguntar se eles têm alguma comida que não use bichos mortos como ingrediente, ou, quando quero ser mais sutil, peço algo só de queijo, ou palmito, etc. Ainda assim acontecem incidentes. Tipo uma vez que pedi um salgado de queijo e a mulher me trouxe queijo com presunto e ainda argumentou quando fui reclamar: “é a mesma coisa”. Nem vou revelar o que tive vontade de fazer com aquele salgado, mas demonstraria a ela com presunto e sem presunto pra ela me dizer a diferença, embora nesse caso, eu deva concordar que talvez o presunto não fosse ter nenhum grande diferencial.
Mas retomando a questão inicial, não me estressei com a mulher da lanchonete e pedi um sanduíche. Enquanto esperava pedi um café expresso. A outra mulherzinha que trabalhava na lanchonete trouxe e me perguntou se eu não preferia sentar na mesa (como já disse antes, numa cadeira próxima à mesa e não na mesa em si, só pra não ter confusão com situações passadas), dispensei a sugestão e disse que estava bem ali mesmo no balcão.
Enquanto esperava reparei na organização do lugar. Eram apenas duas funcionárias, mas trabalhavam em sintonia, mantendo o atendimento eficaz e a limpeza do ambiente. Até fiz um elogio (coisa que só faço se realmente vir motivo, pois não faço a linha puxa saco, se não for o contrário, isso é que eu não sou mesmo). Logo o estabelecimento ficou vazio, àquela hora, também, era de se esperar, pois pra ser bem sincera, já era hora de o povo começar a procurar almoço, coisa que lá não servia.
Quando os clientes começaram a pagar as contas comecei a perceber uma forma digamos ‘diferente’ de atendimento no local. A mulherzinha que atendia era muito mal humorada. Uma das clientes questionou o valor da conta e ela logo veio até a cliente com o cardápio e explicou-lhe em ‘voz alta’ que tudo que foi cobrado estava de acordo com o que foi consumido. A cliente se calou e se foi. E eu senti vergonha alheia.
A essa altura o local ficou praticamente vazio, eu era a única cliente lá. Aí a mulherzinha mal humorada veio mais uma vez falar comigo: “seu pedido pode demorar, não prefere esperar na mesa?”. Mais uma vez disse-lhe que estava bem onde estava.
Alguns instantes de silêncio e de repente a mulherzinha começou a cantar uma música de Roberto Carlos que minha mãe ouvia muito quando eu era criança e dizia que a fazia lembrar o tempo em que namorava meu pai. Óbvio que querendo ou não essa música fez parte da minha história, afinal, o apego da minha mãe a ela, me fazia ter que ouvi-la todos os dias de minha trágica infância (triste isso, não?).
Pra ser sincera até admito meu lado clichê e admito também gostar de algumas músicas de Roberto Carlos e da Jovem Guarda (Mas não espalhem isso. Sabe como é, “tenho que manter a minha fama de mau”). Entretanto, a tal música cantada de forma tão desafinada, a calmaria da outra mulher que preparava o lanche, o ambiente vazio, tudo aquilo me fez lembrar cenas de um filme de terror, onde em questão de segundos o cliente é devorado por monstros, zumbis, fantasmas ou assassinos loucos, ou tudo isso ao mesmo tempo.
Comecei a ficar aflita (neurótica eu? Porque você acha isso? Como assim? Tem algo errado comigo?). Mas aí chegou outra cliente; relaxei mais. Enquanto limpava os pratos a mulherzinha cantora, entre um verso e outro, reclama dos clientes que deixavam restos de comida nos pratos e mesas.
E a cantoria continuava: “Eu seeeeeeeeeeei.... No volante eu penso nela, já pintei no para-choque um coração e o nome dela”. Aliás, minha mãe e o Roberto Carlos que me perdoem, mas pra mim esse caminhoneiro dessa música queima. Que espécie de caminhoneiro tem um coração pintado no para-choque? Como assim gente? Eu daria gargalhadas se visse uma marmota dessas, e se o coração tivesse um nome dentro, eu ia rir o dobro. Acho que o Roberto Carlos estava meio drogado quando escreveu essa letra.
Sei que enquanto eu fazia a análise do discurso do Roberto, a cliente que havia chegado há pouco tempo, perguntava se elas tinham mousse de maracujá. Do outro lado do balcão a resposta foi categórica: “o que tem tá aí, procure”. Essa doeu até em mim.
Nesse momento meu lanche ficou pronto. Pedi um refrigerante pra acompanhar e foi minha vez de levar uma bela resposta: “Refrigerante é ali, vá pegar”. Quase choro com essa, afinal, poxa, eu fiz um elogio a elas segundos antes. Mas fui lá e peguei minha própria Coca Cola Ks 290 ml.
Quando sentei para comer, parece que realmente estava incomodando com minha permanência no balcão, a outra mulher sugeriu mais uma vez: “se quiser pode ir comer ali na mesa”. Deu vontade de perguntar qual era o problema de ficar ali na droga daquele balcão, mas me contive, até porque a outra mulherzinha continuava cantando a música do caminhoneiro fruta e isso estava começando a ficar realmente chato. Logo percebi qual era o problema dela. Terminei de comer, paguei a conta e dei no pé. Pra mim aquele mau humor todo tem nome: dor de corno mal curada. Não duvido nada que daqui uns dias ela tenha pintado um coração na fachada da lanchonete, e com um nome dentro! 

sábado, 23 de julho de 2011

Morre a cantora Amy Winehouse: um mito que se cala

Morre, aos 27 anos, a cantora britânica Amy Winehouse. Na minha opinião uma das maiores artistas dos últimos tempos, voz perfeita e estilo único. Independente dos barracos e dos escândalos, Amy era muito talentosa e isso não pode ser negado. Sua vida dividiu-se entre o sucesso e o fundo do poço por causa das drogas e de um amor doentio. O mínimo que ela merece agora é respeito e reconhecimento. E podemos ter certeza que a história da Amy não acaba aqui, mesmo jovem ela conseguiu se destacar a ponto de merecer ser lembrada para sempre como uma das melhores cantoras de nossa época. 



Acompanhe informações do site G1:



Cantora Amy Winehouse é encontrada morta


 


em Londres

Rede britânica Sky News publicou informação neste sábado.
Polícia confirmou que encontrou corpo da cantora em sua casa.

Do G1, em São Paulo
Amy Winehouse durante show em Belgrado, em que foi vaiada (Foto: AP)Amy Winehouse durante show em Belgrado
(Foto: AP)
A cantora Amy Winehouse foi encontrada morta em sua casa, em Londres, neste sábado (23), segundo a polícia de Londres. A cantora tinha 27 anos e um histórico de envolvimento com álcool e uso de drogas.
A cantora se apresentou em turnê pelo Brasil em janeiro deste ano, com shows em Florianópolis, Rio de Janeiro, Recife e São Paulo.


















sexta-feira, 22 de julho de 2011

Alterna comunicação se prepara para lançar filme sobre o Rio Mossoró

O lançamento do curta de ficção que aborda a situação do Rio Apodi- Mossoró, produzido pelo grupo alterna comunicação, se aproxima. O grupo ainda não divulgou datas, mas disponibilizou hoje algumas imagens com cenas do filme.
Para ver essas imagens, clique aqui.
Em breve Mossoró irá conhecer ‘Memórias do Rio da Morte’.
Um filme produzido na cidade, por gente que mora na cidade. 

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Macumbeira, Mãe de Santo, ou Psicóloga?



Eu devo ter algum dom muito especial que ainda não descobri. E não digo isso pra amenizar minha falta de talento para as coisas com as quais me envolvo. Sei que sou lesada, desastrada e muito, muito tapada (eleve isso ao cubo quando for se referir a questões amorosas). Mas enfim, não é essa propriamente a questão, se fosse fazer um texto só pra dizer que sou tapada não traria nenhuma novidade a ninguém. Inclusive já sofri muito com isso e também com o fato de achar que não tenho vocação para nada. Adoro fazer um monte de coisas, mas sou sempre um fracasso. Minha mãe queria que eu fosse professora, meu pai queria que eu fosse advogava, virei jornalista, escrevo poesia, moro com um gato e tenho um violão. Tudo a ver né?
E daí que nessas minhas andanças pelo mundo (lê-se nas ruas de Mossoró) acabo encontrando muita gente, e pode parecer difícil de acreditar, mas são pessoas mais estranhas do que eu. E essas pessoas estranhas pertencentes a um determinado perfil acabam sempre me abordando da mesma forma: Quando estou sozinha e com cara de ‘hoje eu não quero falar com ninguém’.
Um exemplo: estava eu uma vez com o humor de pit bull que viu um gato e uma expressão de porta, com fones de ouvido e óculos escuros numa parada de ônibus, que por sinal estava atrasado mais de 40 minutos, e detalhe: eu estava com muita pressa. O que eu menos queria era ter que abrir minha boca para falar. Mas, eis que me aparece um senhorzinho com cara de quem acaba de ser libertado da Mário Negócio*, põe a mão no meu ombro e pergunta: “você viu se o ônibus que vai pro Vingt Rosado** já passou?”. Sem tirar meus fones ou mudar a expressão do rosto respondo apenas: “Não”. Me viro e fico lá com a mesma expressão, de repente o senhorzinho vem de novo: “você sabe algum outro ônibus que passa por lá?”. Eu: “Não senhor, pergunte ali para o funcionário da empresa”. Achando que enfim teria me livrado dele o homem parece ter esquecido do ônibus e sua única meta agora era me tirar do sério. Veio outra vez onde eu estava e começou: “minha filha mora lá, ela já está com dois filhos, um marido que não presta, levando uma vida miserável coitada. Mas bem feito pra ela, quis levar a vida da mãe, que era puta, tá aí, no mundo...” Ele falava sem parar e mesmo sem eu dar a mínima para o que ele estava contando o cara não parava. Eu estava dando voltas dentro de mim de tanta raiva, mas decidi ficar na minha, tive que tirar meus fones pra não parecer mal educada, e fiquei ali rezando ainda mais para que a droga do ônibus chegasse logo. Me distraí um pouco e quando fui ver lá estava ele ainda falando sem parar, agora falava sobre um amigo que era alcóolatra e eu não sei como a conversa chegou a esse ponto, mas nada parecia ser capaz de calar a boca dele. De repente o ônibus que eu tanto esperava apareceu, quase morri de alegria, mas como alegria de pobre dura pouco, o cara que parecia que o único rumo que queria tomar era o meu, entrou no mesmo ônibus, sentou do meu lado e me azucrinou a viagem toda, confesso que desci duas paradas antes da que eu ia descer para não ter que suportar mais aquilo.
Outra vez foi uma senhora que me abordou num supermercado e do nada começou a falar do filho dela que tinha falecido. Eu estava com a mesma cara introspectiva de sempre, mas tentei ser simpática dessa vez. PRA QUE? A  mulher grudou em mim e me perseguiu por cada sessão do supermercado, “ai porque meu filho isso, meu filho aquilo, ele era tão moço” e por aí vai. Depois ela veio me dizer que o filho dela tinha 60 anos quando morreu, há mais de 3 anos.
Fatos assim não são difíceis de acontecer comigo. Nem de ressaca eu escapo. Estava saindo de uma festa morta de cansada e com meus sentidos um pouco afetados pelo excesso de líquido não vendido em lanchonete de escola que havia ingerido, quando uma mulher veio sentar ao meu lado. Era de manhã e eu esperava uns amigos para ir embora. A mulher parecia estar voltando da sua caminhada. Não sei por que causa, motivo, razão ou circunstância ele veio e sentou do meu lado, na calçada, às 05h30min da manhã. Ela nem disse oi e já foi logo soltando: “esses jovens que frequentam esse lugar aí, nenhum presta, nenhum tem Deus, pra vir pra cá eles vêm, mas não vão uma missa, não têm Jesus, eles vêm pra cá pra ‘fumar loló’, pra ‘cheirar maconha’...” Percebi na hora que ela estava obviamente insinuando que eu tinha acabado de sair de uma boca de fumo, até pensei em revidar e dar uma resposta a altura, mas me recusei a dialogar com alguém que usa as expressões ‘fumar loló’ e ‘cheirar maconha’. Fiquei na minha e me afastei, mas ela era insistente, se aproximou e começou a falar sobre o quanto a juventude estava perdida e pedia pra eu concordar: “você não acha?”. Fiquei ali em dúvida entre o suicídio, matar a mulher pra ver se ela calava a boca, ou matar meus amigos por me deixarem sozinha com uma doida que desabafa com uma bêbada às 5hs da manhã.
Outra vez foi numa boate, numa festa dessas que o melhor momento é aquele em que você entra no carro pra ir embora. Uma mulher com cara de “fugi hoje do São Camilo*** se aproximou de mim e do carinha que estava comigo e começou a contar a vida dela, que tinha 37 anos mas morava com os pais por que não queria trabalhar, mas que agora estava difícil por que o pai não queria mais ela em casa. Aí meu amigo perguntou: “e você faz o que da vida?”. Aí ela: “Eu venho pra cá”. Pedi licença ao meu amigo e fui tentar morrer até chegar a hora de irmos embora.
O pior de tudo isso é que essas coisas sempre acontecem. Eu pareço ter um imã pra atrair pessoas inconvenientes e completamente desequilibradas e sem a menor noção das coisas. Ora, que ser humano sensato se encosta num desconhecido e começa a desabafar sobre as coisas mais bizarras? Meus pais talvez tivessem razão em não apoiar minha decisão de ser jornalista, e não é por causa do salário que estou voltando atrás agora. A questão é de vocação mesmo, acho que minha vocação deve ser ou pra macumbeira, ou mãe de santo, ou psicóloga. Só isso explicaria esses fatos. Por que sinceramente, já estou pra tentar ‘vestibular’ pra algum desses ‘cursos’. E olhe, se eu cobrasse por cada vez que isso já aconteceu, estava ganhando melhor do que o piso de um jornalista! 






*Mário Negócio é uma penitenciária de Mossoró
**Vingt Rosado é o nome de um bairro de Mossoró
***São Camilo é uma casa de saúde mental de Mossoró



quarta-feira, 20 de julho de 2011

Amor-feto


O que sobrou de nós?
Apenas as palavras que te escrevo agora
E as lembranças que retiramos de dentro de nós
Mas que na história do tempo, na história do nosso tempo não podem ser apagadas.
Talvez ainda esteja aqui, dentro de mim, e só em mim,
Inconsciente,
Uma adormecida ou mórbida saudade,
Que me faz recorrer à poesia
Como meio de expurgar de mim
Esse sentimento todo que precisei abortar
Como a mãe que tira o filho contra a própria vontade:
Nunca poderá voltar atrás,
Mas isso não lhe impede que o relembre vez ou outra,
Que sinta falta daquele ser sem rosto que ela impediu de crescer, de viver ao seu lado e se fortalecer.
Foi assim com o que senti,
Crescia forte e saudável dentro de mim,
Mas só em mim...
Um filho órfão,
Um filho indesejado,
Que precisou ser retirado...
O que restou de nós?
Eu te pergunto...
Apenas as lembranças de um amor-feto abortado.

domingo, 17 de julho de 2011

Os olhos de Isaura


É incrível como o tempo apaga alguns detalhes de nossas lembranças. O rosto de alguém querido que você não vê há muito tempo, a voz, as feições... Embora lembre da pessoa, esses pequenos detalhes vão sumindo com o tempo.

Minha avó, por exemplo, faleceu quando eu tinha 8 anos. Meu carinho por ela nunca mudou, nem a saudade que sinto, mas admitido que a cada ano a imagem do seu rosto vai ficando menos nítida nos vão da minha memória.

Outro dia, porém, tive novamente a impressão de estar diante dela, de me ver outra vez em seus olhos. Entrei num restaurante para almoçar, meio dia, mal humor, cansaço, fome, estresse, a última coisa em que eu estaria pensando naquele momento seria na minha avó .
Mas eis que me viro de lado e vejo aquela mulher de cabelos escuros ondulados, cobertos com um lenço, as marcas da idade bem expressas em seu rosto, as sobrancelhas largas, e os olhos pequenos e apertados. Enquanto eu a observava ela rapidamente olhou pra mim, parecia que eu estava ali diante da minha avó. Suas feições que andaram tão apagadas nos últimos anos pareciam agora tão vívidas.

Por um instante tive vontade de ir até lá e falar com aquela senhora, mas eu não tinha direito de fazer isso, embora ela me fosse familiar, em verdade, eu nunca a tinha visto antes.
Deixei então que ela se fosse.

Já nem sei se a semelhança era mesmo tão forte, mas o episódio serviu para reacender muita coisa que andava adormecida em mim. Lembrei-me da minha casa, da minha infância com minha mãe e meus avós, e agora as feições de Dona Isaura estão em mim mais vívidas do que nunca!

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Sepultamento


Hoje sepultei um grande amigo
O meu desejo mais ardente
E mais antigo
Enterrei um grande amor
Um corpo enterrado vivo
E que mesmo sob a terra
E a umidade
Insiste em resistir
E ainda invade
O pouco de sensatez que em mim existe!


sexta-feira, 8 de julho de 2011

Proibido pegar!

Muitas pessoas levam nome de antipáticas, antissociais e arrogantes, por não gostarem de um certo hábito comum entre muitos.
A questão é a seguinte, tem gente que só fala com você se for te tocando. Não sei se o nome disso é arrogância, mau humor, frescura, chame do que quiser, mas eu não gosto de gente que fala pegando em mim. Pra começo de conversa, eu não gosto que gente que eu não conheço pegue em mim, não gosto e isso é um direito meu. Acho que o ato de tocar em outra pessoa ficou para amigos, familiares, namorados e coisas desse gênero. Agora, uma criatura que eu nunca vi na vida vem pedir uma informação, ou só falar pra encher o saco mesmo, aí, você não diz nem oi e o infeliz já tá querendo segurar sua mão, te abraçar. Eu fico tensa com isso.
E não é por nojo das pessoas, não é por me achar melhor que ninguém, é simplesmente por achar que pra pegar tem que ter um mínimo de intimidade ou de interesse correspondido. Um aperto de mão por educação até que vai, mas tem gente que exagera.
Isso sem falar nuns infelizes que falam batendo. Cada palavra uma cutucada. Pra se ter uma ideia, cutucada me irrita até no Facebook. Pra esses não tem salvação. No primeiro caso eu fico incomodada, mas tento demonstrar de forma mais discreta, agora, quando parte pra cutucar ou bater, vira apelação!
Diante disso, estou propondo uma campanha para todos que se identificam com essa minha peculiaridade (ou não) para aderirmos ao movimento “proibido pegar”; pra ver se assim esse povo sem noção que fica querendo forçar intimidade a todo custo se manca. O slogan da campanha será: “não me toque, se toca”! 

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Sem órbita


Sinto a tristeza dos outros,
Sinto a tristeza do mundo...
Vejo a solidão e me sinto pequeno.
Um pequeno pedaço à parte,
Um planeta sem órbita
Vagando sozinho no espaço.

Sinto a tristeza de tudo,
Vejo-a em sorrisos que estampam rostos tristes
Sinto-a nas músicas que ouço ao longe e não sei de onde vêm
Me ponho dentro das dores dos outros
E me sinto triste também.

segunda-feira, 4 de julho de 2011

A mulher que habita meus sonhos

Os olhos.
O medo.
O meu desejo.
O toque, o silêncio e outra vez o medo.

A linda mulher que habita em meus sonhos
De lábios macios que nunca me tocaram
E que, porém, em meus delírios, senti o gosto várias vezes

Tua face.
Meu olhar prisioneiro dos teus gestos
Rendido por um véu de encantamento e ilusão.
Que te converte mulher, em um misto de doçura e perfeição.
                                                                                            
Linda mulher
Desfila pelas ruas, displicente, tua beleza
E eu aqui parado, a contemplar-te,
Perdido em teus olhos de incerteza. 

domingo, 3 de julho de 2011

Experimento a solidão


Outra vez experimento a solidão
O estado simples de não ser e não estar com mais ninguém
O simples estado de estar só.

Em meus olhos e em minha boca
Esse sabor e esse cheiro
De nostalgia.

Em meus dedos e em meus braços
A ausência e os corpos
Que não me fazem companhia.

E em mim ainda ardia,
Por torrentes de esperanças
Advindas de devaneios infindáveis,
Um infame desejo.

Mas em mim só havia
Restos de ilusões e algumas crenças
Pedaços de emoções lamentáveis
De tudo o que eu quero e nunca almejo.

Experimento, Outra vez, a solidão.
O estado de não ter e de não ser de mais ninguém.
O estado simples de estar só.


Em meus olhos e em minha boca
Não há sabor, vigor ou cheiro
Só velhos vestígios de agonia.

Em meus dedos e em meus braços
A ausência de um corpo
Que já não quer e já não faz mais companhia.