Meu computador deu pau e não
está me permitindo utilizar o Word. E eu, por pra preguiça, nunca mais escrevi
nada. Ideias eu até tenho, mas quando penso em ter que escrever tudo à mão, nas
frases que irei riscar e rabiscar, na lentidão das linhas escrita, no cansaço
provocado pela caneta... Acabo por desistir.
Olho com desprezo o maldito
computador que me trai, que me abandona quando mais preciso, quando sou tomada
pelas ideias e preciso a toda custa expressá-las/ expulsá-las de mim. A
inspiração vem nas horas mais impróprias. E parece que o fato de o computador
estar com defeito faz com que ela, a inspiração, só por maldade, me visite com
mais frequência.
De repente, o texto inteiro
surge em minha cabeça, mas não posso escrevê-lo, e fico me culpando, pois cada texto
que eu penso e esqueço, cada inspiração que eu perco, cada texto que penso em
escrever e não escrevo, é como um filho que não veio ao mundo, uma espécie de
aborto.
Não vou debater a questão do
aborto, ou sequer opinar a respeito, mas creio que independente do motivo, toda
mulher que aborta (por vontade própria ou não) deve imaginar, ao menos uma vez,
como teria sido aquele filho, que rosto teria, como seria seu jeito de
caminhar... É assim que me sinto também com os meus textos, os textos que não
pude procriar, que por desleixo ou preguiça, acabei por abortar.
É por isso que mesmo sem
gostar, voltei a escrever em meus caderninhos como antigamente. E não, não
tenho nada contra isso, o único problema é minha preguiça. Até acho divertido o
contato da caneta com o papel e minha caligrafia vergonhosa estampada sobre
ele. Entretanto, tenho o péssimo hábito de não transcrever para o computador os
textos que escrevo dessa forma, e assim sendo, eles acabam se perdendo.
Hoje em dia somos todos
muito dependentes da tecnologia: computador, celular, Iphone, Ipod, Ipad, ai meu saco! O ser humano viveu milhares de
anos sem essa parafernália e agora, vejam só: somos escravos delas.
Bukowski estava certo ao
dizer que no futuro (não muito distante) os humanos andarão arrastando suas
bundas pelo chão. Sim, porque a tecnologia nos deixa cada vez mais preguiçosos.
Logo será inventada uma máquina que se locomova por nós, para que assim, possamos
fazer tudo sem precisar levantar nossas bundas sedentárias de nossas cadeiras.
Gastamos tanto com academia!
Ora, que ironia! O ser humano tem o mundo inteiro para percorrer e mesmo assim
paga para caminhar em cima de uma esteira. Nada faz sentido! Somos cada dia
mais inúteis.
Foi por isso que hoje decidi
tentar combater meu comodismo e voltar a escrever à moda antiga, sem corretores
ortográficos, que fazem todo o trabalho duro quando se está produzindo um
texto. E descubro que ainda gosto disso. A sensação de escrever é única. O ato de
escrever se torna mais humano quando seu texto é escrito com sua letra.
Fico feliz por ter chegado
até aqui sem a ajuda do computador, mas confesso que não vejo a hora de
formatá-lo para não precisar ficar repetindo esse processo sempre que a
inspiração me procurar. Pois quando se
refere à produção textual devo me posicionar sempre contra o aborto das ideias.
E pra falar a verdade, se você que
chegou até aqui, somente com a leitura, já está cansado, imagine como estão
meus dedos!
O fato é que, mesmo depois
de todo esse discurso, não vejo a hora de poder ter a comodidade do computador
de volta. Também sou imprestável, também já paguei para caminhar numa esteira,
e adoraria poder fazer tudo sem precisar levantar da minha cama. Também sou
humana, não posso fugir a essa regra de ser também acomodada e quase inútil.