sábado, 26 de outubro de 2013

Palavras para o futuro


Eu vi um corpo sem vida,
Coberto de vermes,
A carne podre.

Eu vi um rosto sem alma,
Despido de sonhos
E de valores.

Eu vi um homem morto,
Entregue aos vermes,
Só carne e osso.

Eu vi um homem podre,
Se decompondo, fedido,
Em completa putrefação.

Eu vi, uma vez na vida,
O que me aguarda no futuro.
Aquele homem sou eu amanhã!

Sem dinheiro, sem orgulho,
Somente um corpo frio,
Em decomposição.

Sem rosto, sem nome,
Sem posses, sem fantasias.
Serei também um corpo podre, algum dia!

E por isso escrevo, para que sobre de mim,
Além da carne entregue aos vermes,
Vestígios de minha alma, expressos em poesia. 

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

O que explica o desejo?


O que explica o desejo
E essa fome incontrolável que eu sinto
Cada vez que eu te vejo?

O que explica esse meu querer?
Seriam os olhos traiçoeiros
Que me olham cativantes
A me convidar para perder-me
Em suas curvas inquietantes?

O que me impele até o teu ser?
Seriam os lábios fascinantes
Que me beijam desordeiros
Sem jamais tocar-me o corpo?



quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Helena


Nasceu entre tantas
E desde cedo aprendeu a segurar as pontas.
Mas diferente de suas irmãs
Tinha outros anseios.

Ousou amar,
Arriscou-se a sofrer,
A parir, dar de mamar,
E fora das normas viver.

Essa mulher Helena
Aprendeu a ser suprema,
Botou os pés na estrada,
Nunca fugiu da batalha.

Foi amante, foi guerreira,
Revolucionária.
E por não lhe faltar coragem
Lutou com muito vigor
Pelo direito de ser como é.

O receio não estremece,
O corpo jamais padece,
O desejo não emudece,
No coração dessa mulher.


terça-feira, 8 de outubro de 2013

Poesia ultrajante

Ria de mim, mulher traiçoeira! Ria de mim e do desespero que me abate Cada vez que um amigo me dá conta De mais um de seus amantes. Ria de mim, mulher covarde! Ria de mim e do papel ao qual me presto Cada vez que a raiva e o ciúme me invadem E te faço, como agora, poemas ultrajantes. Ria de mim, mulher ingrata! Que prostitui seus beijos nas calçadas, Os beijos que jurava serem meus, Nos tempos em que fingia que me amava. Ria de mim, mulher impiedosa! Ria de mim e de minha sina desastrosa. Mas a mágoa que sinto agora, Irei levar para a cova. Ria de mim, mulher esnobe! Ria de mim e de meus versos pobres, Da minha falta de estilo, Das minhas rimas forçadas. Ria de mim, mulher dissimulada! Do meu discurso enfadonho, Da minha dor envaidecida, Dessa retórica fracassada. Ria de mim, mulher desalmada! Mulher falsa e orgulhosa, Ria de mim, realizada, Pela dor e o desespero que me causa. Ria de mim em outros braços. Ria de mim e de meus versos mal criados, mal escritos, inacabados. Versos insanos e entristecidos que a ti agora dedico, Como outrora dediquei minha alegria. Ria de mim, mulher perdida! Que perdeu-se do amor, e me perdeu, Que jurou me amar por toda a vida E na primeira esquina me esqueceu. Ria de mim, mulher fingida, E de tudo que te jurei pra toda a vida, Deixo apenas este poema mal escrito, Somente este poema, todo seu.

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Juras de um falso amor


Jurava-me um amor intenso e louco
Mas foi só eu virar as costas
E suas juras já estavam postas
Sobre as calçadas dos becos
Nos quais descomposta 
Lambuzava-se em outras salivas

Guarde o seu amor para quem te queira
Que de seus lábios eu não quero nem a promessa
Nem a esperança desordeira
Que ficou em mim após aquele adeus

Distribua seus beijos amargos pelas ruas e calçadas
Que eu de você não quero nada
Nem mesmo as lembranças do amor
Que falsamente me jurava

Vá viver seus prazeres mundanos
Vá viver de amor em amor implorando
E se entregue ao papel ao qual se prestou
Prostitua seus beijos nas sarjetas
Prostitua seus sonhos e o amor que me jurou

E se um dia cruzar comigo na rua
Faça de conta que eu nunca fui sua
Quando eu te vir por aí mendigando
O mesmo amor que vivia jurando
Nem pena irei sentir

Vá buscar seu horizonte
E desapareça da minha estrada
Perca-se nos becos e calçadas
Distribua aos bêbados e mendigos
As migalhadas do seu amor de fachada.

Quase nada

Olhares fúnebres,
Olhos úmidos,
Noite fria.

Madrugada adentro
Nós nos maltratamos
Com palavras afiadas
E lágrimas incontidas.

Chegamos ao final dessa jornada
Sem culpa, sem remorsos,
Sem quase nada,
Apenas os pedaços do nosso amor
Espatifados pelo chão da nossa sala,
E os vestígios de tudo aquilo que um dia fomos
Impregnados para sempre em nossas almas. 

domingo, 6 de outubro de 2013

Rompimento


Agora só nos resta seguir a nossa história
Um dia desses passo aí para pegar aqueles livros
Aproveito pra levar as suas coisas.
Nos veremos, trocaremos um sorriso
E depois você irá lembrar daquela sua camisa que esqueci de levar
E irá me procurar.
Trocaremos novamente alguns sorrisos
E nos esforçaremos para não deixar transparecer as nossas lágrimas.
Vamos sofrer cada vez que olharmos nossas fotos,
Mas vamos viver, apesar dos desencontros.

sábado, 5 de outubro de 2013

Retrato do tempo


Encontrei perdida em minhas coisas
Uma fotografia antiga
Que me trouxe novamente
O seu rosto.

A saudade que eu julgava superada
Abateu-me de súbito,
Olhei atentamente cada detalhe,
Nossos olhos sorridentes,
Nossos lábios apaixonados,
Embalados pelo mesmo riso,
Nossas mãos entrelaçadas...

O que restou de tudo isso em nossas vidas?
Hoje somos silêncio, solidão e apatia,
E tudo que vivemos se perdeu no tempo
Aprisionado naquela fotografia. 

quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Desertos


Desertos atravesso
Procurando por teu corpo.
Em uma jornada incerta
Que se desenrola em meu peito.

Por noites em silêncio
Procurei-te no meu quarto,
Projetei a tua imagem,
O teu beijo, teu contato...
E perdi-me entre cigarros,
Submerso em devaneios.

Ensaio abraços e palavras,
Ensaio algumas carícias,
E junto de ti me vejo,
Consumando o desejo,
Em tua pele abrilhantada.

Perco-me em meus delírios,
Idealizando a imagem tua,
Submerso na vontade,
De peito aberto e a alma nua.





quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Frigidez


Teus lábios em meus lábios gélidos
Minhas mãos em tuas mãos frias
Nossos beijos sem sabor
Revelam a frigidez de um amor glacial
A febre, o fogo, o gozo e o viço
Já não nos contemplam como outrora
E sofremos em silêncio
Com essa dor que nos devora.
O tempo, implacável, congelou nossos desejos.
Sobrevivemos de emoções tíbias
E de beijos insípidos.
Mas o amor ainda estava lá,
Em algum lugar,
Mascarado,
Congelado no dissabor
De nossa rotina anti-erótica. 

terça-feira, 1 de outubro de 2013

Suicídio I

Dedicado a todas as vítimas desse mundo insensato

Agora ela já não dança
E seus cabelos dourados
Já não enfeitam mais
Os salões de festa.
No baile hoje à noite
A música irá soar
Em um tom mais triste
E até a noite ficará
Mais escura e fria
Quando sentir a sua ausência...
Quantas pessoas morrem todos
Os dias por falta de amor?

Um dia...


Talvez um dia eu te conte,
Em um dos meus poemas,
Como estou.

Talvez um dia você descubra,
Em um de meus versos,
O quanto te amei.