terça-feira, 16 de abril de 2013

Dias Melhores



João era um homem
De origem humilde e de muita fé
Sempre tentava,
Por mais difícil que fosse
Não reclamar de nada
Os pais morreram cedo,
Esposa nunca teve,
Se houve filhos não soube
A escola foi o cabo da enxada
E as pancadas que seu pai lhe dava
Quando fazia má-criação.
De amigos só a cachaça e o cabo da espingarda
Que usava pra conseguir comida
Quando a fome apertava
De valor nunca teve nada
Mesmo velho, coitado,
Nunca ouviu da boca de ninguém, ser chamado de senhor
Mas todo domingo rezava, pra Jesus menino e pra Deus, o salvador
Mesmo injustiçado, o nosso João, engajado
Nunca deixou de ter fé.
E foi numa manhã de domingo, quando voltava da missa
Depois de ouvir o sermão
No qual o padre dizia
Que dias melhores virão
Que o nosso João, animado
Saiu pela rua, distraído
E foi em cheio atingindo
Por um enorme caminhão. 

sexta-feira, 5 de abril de 2013

A voz de minha alma


Todas as noites em meu quarto
Eu recebo uma visita
Uma voz que pede ajuda,
Diz que é minha alma,
Anda distante e está perdida
E esta voz se faz constante
Tira meu sono
Me assombra com sua súplica aflita
Em meu silêncio essa voz é o canto mais medonho
Expondo de minha alma as feridas
A ecoar dentro de mim por toda a vida. 

quarta-feira, 3 de abril de 2013

Rodoviária


Um café quente na bancada
Do outro lado, pessoas que esperam isoladas
Pessoas que esperam parentes
Pessoas que esperam destinos
Pessoas que esperam por nada
A velha senhora sozinha
Um policial que ouve gunz’s roses do outro lado
O homem que vagueia sem destino
E que inconvenientemente me pede um trocado
O jovem casal que ‘arrasta’ os filhos
Dois garotos pequenos, com um presente corrompido
E um futuro quase reservado
Na barriga, a mulher carrega o terceiro filho,
Pra breve esperado
Muitas vidas cruzadas.
Quando todos estes personagens se encontrarão novamente?
Histórias que se cruzam invisíveis
E quase ninguém vê
quase ninguém repara.