domingo, 17 de julho de 2011

Os olhos de Isaura


É incrível como o tempo apaga alguns detalhes de nossas lembranças. O rosto de alguém querido que você não vê há muito tempo, a voz, as feições... Embora lembre da pessoa, esses pequenos detalhes vão sumindo com o tempo.

Minha avó, por exemplo, faleceu quando eu tinha 8 anos. Meu carinho por ela nunca mudou, nem a saudade que sinto, mas admitido que a cada ano a imagem do seu rosto vai ficando menos nítida nos vão da minha memória.

Outro dia, porém, tive novamente a impressão de estar diante dela, de me ver outra vez em seus olhos. Entrei num restaurante para almoçar, meio dia, mal humor, cansaço, fome, estresse, a última coisa em que eu estaria pensando naquele momento seria na minha avó .
Mas eis que me viro de lado e vejo aquela mulher de cabelos escuros ondulados, cobertos com um lenço, as marcas da idade bem expressas em seu rosto, as sobrancelhas largas, e os olhos pequenos e apertados. Enquanto eu a observava ela rapidamente olhou pra mim, parecia que eu estava ali diante da minha avó. Suas feições que andaram tão apagadas nos últimos anos pareciam agora tão vívidas.

Por um instante tive vontade de ir até lá e falar com aquela senhora, mas eu não tinha direito de fazer isso, embora ela me fosse familiar, em verdade, eu nunca a tinha visto antes.
Deixei então que ela se fosse.

Já nem sei se a semelhança era mesmo tão forte, mas o episódio serviu para reacender muita coisa que andava adormecida em mim. Lembrei-me da minha casa, da minha infância com minha mãe e meus avós, e agora as feições de Dona Isaura estão em mim mais vívidas do que nunca!

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