domingo, 29 de janeiro de 2012

“Só os virtuosos possuem amigos”



Apesar de não fazer o estilo do blog, achei que esse trecho escrito por Voltaire (em seu livro dicionário filosófico) merecia ser compartilhado com vocês. Talvez alguns até já tenham lido e conheçam a obra do autor bem melhor que eu, mas em todo caso, fica aí um belo escrito e, para os que não conhecem, uma dica de um ótimo autor. 

"AMIZADE-
Contrato tácito entre duas pessoas sensíveis e virtuosas. Sensíveis porque um monge, um solitário, pode não ser ruim e viver sem conhecer a amizade. Virtuosas porque os maus não adjungem mais que cúmplices. Os voluptuosos careiam companheiros de devassidão. Os interesseiros reúnem sócios. Os políticos congregam partidários. O comum  dos homens ociosos mantêm relações. Os príncipes têm cortesões.
Só os virtuosos possuem amigos."

François-Marie Arouet - Voltaire (1694-1778)

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Ator Fragmentário


No palco dos lamentos eu expus a minha dor
Neste palco de lamentos sou artista, sou ator.
Ator coadjuvante num cenário entediante
E eis que surge ela: a vida,
 protagonista mais bela
do meu teatro de ilusões.
E a cada dia o espetáculo continua
Lá vai ela , a  vida, nua e crua.
A história se desenrola sem texto fixo:
Às vezes drama,
Às vezes comédia...
Tudo improviso!
E a cada dia surgem novos personagens:
Amigos, inimigos, amores;
Mocinhos, bandidos... Só atores!
Grandes atores de renome,
E eu, pobre artista sem nome,
Em meio a todos eles.
Ludibriado, servindo a tantos senhores!
Sou João, Maria, Isabel...
Tantos personagens!
Mas todos com um pequeno fragmento de mim,
Um eu fragmentário, divisório, solitário.
Um personagem secundário coberto por um véu
Personagem sem nome.
Ana, Cristina, Isael...
A verdade é que de todos os atores
Sou o único presente em todas as apresentações:
Estou sempre lá, no segundo plano,
Figurante sem falas e sem ações.
Sou artista, ator, vaidade;
Desfrutando de um gozo falaz, inebriante, leviano.
Um eu fracionário,
fração de mim;
Ator fragmentário
de um show perto do fim.
O show acaba,
o público já se esbaldou.
Os atores estão cansados;
É aí que todos se vão.
Fico sozinho no palco
ensaiando um monólogo
 intitulado solidão.




sábado, 17 de dezembro de 2011

Persistência





Ainda havia uma flor solitária no campo sombrio devastado
Pairava no ar um perfume
A esperança relutava insistente
Ao sono resistia teimoso
O homem magro e faminto abriu novamente os olhos
E se pôs outra vez de pé

Ainda brilhava uma estrela naquele céu obscuro
Havia frestas de luz na beleza que o breu escondia
E no peito daquele velho cansado
Embora adormecida se camuflasse
Aquela ferida ainda ardia,
O câncer continuou espalhado
Em sua voz de nostalgia.

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Esconderijo



Não iria adiantar, ela sabia
Mesmo assim, decidiu tentar
Aquilo não seria capaz de ajudá-la
Mas aos olhos alheios servia para acalmar

E assim ela seguiu,
Acostumou-se com o irreal
Pílulas mágicas de felicidade
Quem não havia de querer algo igual?

Se perdeu então naquele mundo,
Se deixou levar até não mais perceber
Pois sabia que estava condenada ao martírio
De permanecer acreditando,
De se manter adormecida
Para fugir da realidade
E da morte se esconder.

Outra face


Vi teu rosto hoje em uma imagem.
Fotografias perdidas
na tela de um computador.

Vi teu rosto em outra face,
Desconhecendo o rosto
de quem um dia
chamei de amor.

Antes um rosto meu,
Perfeito e particular,
Familiar e acolhedor.

Agora só mais um rosto,
Desconhecido e sem valor. 

Ego moribundo


No horizonte dos jardins da insanidade
Alimentei intensamente a minha dor
Um sentimento compulsivo e destrutivo
Que um dia ousei chamar de amor
Há dias venho velando meu ego moribundo
Assusto-me com sua força e me pergunto:
Até quando resistirá a tanto açoite?


Insônia


E eu que outrora vivia entre a bebida e a nostalgia
Tenho agora o cigarro e três comprimidos por companhia

Eu que um dia já fui bom
Hoje não sei mais quem sou
Quis me negar a amar
Quis viver por amor

E o que outrora era alimento pra alma
Hoje é um veneno pro cérebro
Consumindo dia a dia
Do meu rosto a expressão

Acendo um cigarro e fumo sozinho,calado
Somos apenas eu, o cinzeiro e a fumaça

E eu que um dia debochei da paixão
Quis nunca mais me entregar
Quis morrer por amor

Olho pra tudo e nada percebo
A não ser uma vã lembrança
de um certo gosto,
ou de um certo beijo.

O sono me ronda, mas não me derruba
As horas se passam e de pé permaneço
Separo a dosagem, dou o último trago, esqueço o cigarro,
Engulo a seco e então adormeço.