quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Nem escritor, nem alcóolatra


Eu nasci pobre, feio e desengonçado. Precisei me esforçar muito para ser notado.  Ser notado não como especial ou indispensável, mas ser notado, para que alguém (até mesmo eu) pudesse saber que eu existo. Sem sex appeal, sem estilo, sem jeito para a dança ou o teatro, foi na bebida e na poesia que encontrei minha válvula de escape. Não que fizesse isso bem, mas era o que fazia de melhor. E bebia melhor do que escrevia.

Na infância foi tudo uma grande merda. Eu não tinha noção de muita coisa e acreditava que pudesse ser aceite se agisse como eu mesmo. Mas aí começaram os risos e as zoações. Aqueles putos! Nunca estariam a altura de entender o universo que em mim havia, mesmo aos 8 anos de idade. Foi então que me fechei e passei a detestar 90% das coisas que me rodeavam. Os outros 10% eu só vim odiar depois que cresci.

Tentei seguir alguma religião, mas era curioso demais para isso. Tentei entrar para algum grupo de teatro, mas não tinha talento. Pensei em música, ou dança, mas não era a minha praia, eu sempre fui destro e sempre tive dois braços esquerdos. Houve uma época que eu gostava muito de desenhar, desenhava frequentemente, e até gostava, mas tempos depois achava tudo uma porcaria, ia lá e destruía tudo, rasgava, jogava no lixo, depois ficava com um vazio.

Sempre fui o maior crítico de mim. As pessoas sempre me cobraram tanto que acabei me acostumando a achar que nada que eu fazia estava bom. Até hoje é assim.

Apenas duas coisas me anestesiavam desse mundo: a escrita e a leitura. E posteriormente, eu iria descobrir o álcool. Sempre que eu lia uma história triste me identificava, ou sempre que lia uma história feliz, me imaginava no lugar do protagonista. Não demorou muito para que eu mesmo começasse a escrever minhas histórias. Porém, a realização só viria mesmo com a bebida.

Desde o primeiro porre eu soube que ali estava o sentido da vida. Ficar de porre e aí sim, escrever com a minha alma, expurgar cada sentimento reprimido, e extrair de mim até a última gota de melancolia.

Hoje, apesar de tudo, não me considero alcoólatra, nem escritor. Mas estou quase lá.


domingo, 4 de agosto de 2013

Bagunça


Um dia ela se foi
Deixando pra mim a bagunça,
A casa desarrumada,
E um monte de roupas sujas,
Restos de comida pelo chão,
E o seu cheiro impregnado em meus lençóis,
As taças do vinho que desfrutamos
Convertidas em cacos por toda a parte,
Pedaços do que fomos por todos os lados,
E minha vida tão confusa que já nem sei se nessa bagunça
Estou a descrever minha casa
Ou minha própria alma.

sábado, 3 de agosto de 2013

Lembre-se da morte


Você vai morrer um dia,
Cidadão!
O seu corpo apodrecerá,
Mais do que já está.
A sua carne será corroída pelos vermes,
E o seu orgulho,
A sua vaidade,
Irão se decompor
Junto com cada pedaço
De sua carne podre,
Que se transformará em adubo
De baixo da terra.
Você vai morrer um dia!


quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Segredo

Te fiz um poema em segredo.
E como me sinto mal por isso!
É injusto que estejas a ler este poema agora
E permaneças na dúvida:
- Será que foi pra mim?

Sim, foi para ti e por ti,
Pois é por tua causa que escrevo.
E sem tua doce imagem,
Meus poemas não passam de palavras sem sentido
Tentando encontrar um elo.

Te fiz um poema,
Mas é segredo.
E que meus versos te digam
O que meus lábios sentem,
O que eu gostaria de externar,
Mas tenho medo.

Te fiz um poema,
E tu não sabes.
Escrevo poemas,
Mas sou covarde.


Luxúria


Os lábios dela exalavam a luxúria
Sua língua insensata me deixou extasiado
Insaciado, inconformado,
Implorando por mais.

Os olhos dela eram como um convite ao pecado
Olhar em seus olhos era como aventurar-se à noite
Em uma estrada turva 
Em alta velocidade
Sem temer a morte.