quarta-feira, 6 de agosto de 2014

A mão à palmatória



Se sou feminista, sou maldita.
Se sou poetisa, sou medíocre.
E minha arte clandestina,
Propagada nas esquinas,
É um insulto imperdoável,
Uma pretensão sem limites,
Ferindo olhos e ouvidos
Dos que têm o ego inflamável.

Minha poesia (que poesia?)
É singela, capenga,
Somente versos mal rimados,
Parece mais uma arenga,
Não tem nada de admirável.

E sendo mulher, mais ainda,
Pois não passo de uma menina,
Querendo espaço entre os machos.
Sou feminista maldita,
E confesso aqui minha mediocridade.
Pois para mim, vagabunda,
Não há espaço na capital,
Nem entre os intelectuais dessa cidade.

Pois quero que saibam agora,
Que estendo a mão,
Não ao abraço, mas à palmatória,
E admito, muito contente,
Que prefiro os bares e a cachaça,
Que prefiro os cabarés e as praças,
À essa gente demente,
Que mesmo após doze anos
De escrita e de antipatia
Diz que é poeta,
Mas não sente o que é a poesia.