sábado, 17 de dezembro de 2011

Persistência





Ainda havia uma flor solitária no campo sombrio devastado
Pairava no ar um perfume
A esperança relutava insistente
Ao sono resistia teimoso
O homem magro e faminto abriu novamente os olhos
E se pôs outra vez de pé

Ainda brilhava uma estrela naquele céu obscuro
Havia frestas de luz na beleza que o breu escondia
E no peito daquele velho cansado
Embora adormecida se camuflasse
Aquela ferida ainda ardia,
O câncer continuou espalhado
Em sua voz de nostalgia.

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Esconderijo



Não iria adiantar, ela sabia
Mesmo assim, decidiu tentar
Aquilo não seria capaz de ajudá-la
Mas aos olhos alheios servia para acalmar

E assim ela seguiu,
Acostumou-se com o irreal
Pílulas mágicas de felicidade
Quem não havia de querer algo igual?

Se perdeu então naquele mundo,
Se deixou levar até não mais perceber
Pois sabia que estava condenada ao martírio
De permanecer acreditando,
De se manter adormecida
Para fugir da realidade
E da morte se esconder.

Outra face


Vi teu rosto hoje em uma imagem.
Fotografias perdidas
na tela de um computador.

Vi teu rosto em outra face,
Desconhecendo o rosto
de quem um dia
chamei de amor.

Antes um rosto meu,
Perfeito e particular,
Familiar e acolhedor.

Agora só mais um rosto,
Desconhecido e sem valor. 

Ego moribundo


No horizonte dos jardins da insanidade
Alimentei intensamente a minha dor
Um sentimento compulsivo e destrutivo
Que um dia ousei chamar de amor
Há dias venho velando meu ego moribundo
Assusto-me com sua força e me pergunto:
Até quando resistirá a tanto açoite?


Insônia


E eu que outrora vivia entre a bebida e a nostalgia
Tenho agora o cigarro e três comprimidos por companhia

Eu que um dia já fui bom
Hoje não sei mais quem sou
Quis me negar a amar
Quis viver por amor

E o que outrora era alimento pra alma
Hoje é um veneno pro cérebro
Consumindo dia a dia
Do meu rosto a expressão

Acendo um cigarro e fumo sozinho,calado
Somos apenas eu, o cinzeiro e a fumaça

E eu que um dia debochei da paixão
Quis nunca mais me entregar
Quis morrer por amor

Olho pra tudo e nada percebo
A não ser uma vã lembrança
de um certo gosto,
ou de um certo beijo.

O sono me ronda, mas não me derruba
As horas se passam e de pé permaneço
Separo a dosagem, dou o último trago, esqueço o cigarro,
Engulo a seco e então adormeço. 

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

O viajante



Os rastros na estrada
A ferida que ainda sangrava
As lágrimas que o sol secava
Eram-lhe agora memórias antecipadas
A precipitação de um remorso
A pressuposição de seu fracasso

Partiu, então, outra vez,
Levando na bagagem
Algumas roupas,
Um pouco de pão,
 Um pouco de água
E uma última porção de coragem

O resto do que tivera
Os copos e corpos dos quais bebera
E tudo o mais que experimentara
Deixou ali, naquela estrada.

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Alma perdida



Embucei meu rosto sob um véu de alegria
E um sorriso pus no rosto
Pra esconder minha agonia
Minha falta de talento
Minha não inspiração
Que converteram o meu ego
E naufragaram minha poesia
Neste amontoado de palavras sem sentido
 Rabiscadas na minha alma
Que sangra por aí perdida numa folha de papel.

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Tinha um corno no meio do caminho


Deixo logo claro antes de começar a escrever que vou utilizar o termo ‘corno’ em todo esse texto, e quem se sentir ofendido, perdoe-me, mas é corno também. Porque corno é uma coisa única nesse mundo. Existe o traído, o rejeito, o enganado e existe o corno.
De todos esses tipos, o corno se destaca aonde quer que vá. Porque corno não se contenta em levar chifre calado e fingir que nada está acontecendo, ele tem que mostrar pro mundo o quão infeliz e injustiçado pela vida ele foi.
É comum do corno se calar e aceitar os maiores absurdos de seu parceiro (a) por covardia, por mesmo sabendo que está sendo traído não ter coragem de dar um basta e terminar o relacionamento.
Porém, mesmo aceitando esse tipo de situação grotesca, o corno precisa mostrar pra alguém que está insatisfeito, numa tentativa frustrada de mostrar pro parceiro (a) o quão infeliz ele está, pra ver se a pessoa se sente culpada, responsável, ou coisa assim. Quanto mais fracassada for essa tentativa, mais o corno a repete.
Enquanto as lamúrias do corno só interferem na vida dele mesmo, este se mostra como ser inofensivo para a sociedade não envolvida em seu caso (Já que a pessoa que está no papel de traidor ou de amante nunca está livre de tomar umas bordoadas, uns sopapos, uns puxões de cabelo, umas facadas... Por mais manso que seja o corno).
Entretanto a maioria dos cornos convictos é calada em casa e por não conseguir se vingar do parceiro (a) resolve descontar sua raiva no primeiro cidadão comum que aparecer. É aí que o corno se torna um chato, altamente insuportável.

Munido de toda dor de cotovelo que no mundo houver, o corno sai de casa a procura de suas vítimas. Estas podem ser seus amigos mais íntimos, o dono do bar da esquina, o garçom da lanchonete, ou mesmo qualquer um de nós, pobres seres indefesos.

O ataque do corno é sempre certeiro. Ele escolhe a vítima, e pode passar horas alugando-a para falar de suas frustrações. No bar, o corno é o primeiro a chegar e o último a sair (quase sempre carregado por alguém após criar confusão com alguém por causa das piadinhas que costuma escutar).

Contudo, o pior tipo, o mais ofensivo à sociedade, é o corno exibido. Ele não faz sexo com quem ama há um bom tempo, sua aparência também não é das melhores e seu bom senso (se é que um dia o teve) já deixou de existir.

É possível identificar um desses tipos num dia daqueles em que você está em casa morrendo de dor de cabeça, mas tem aquele trabalho pra terminar e que não pode ficar pra amanhã de forma alguma. A concentração numa hora dessas é um desafio, mas você resiste. Quando finalmente consegue entrar no clima da missão, de repente você se assusta com um som que vem da rua. É ele, o corno!

Depois de ser traído, humilhado, rejeitado pelos amigos, expulso de todos os bares, o corno pega seu melhor amigo corno e saem juntos pra infernizar a vida de quem é feliz.
Caso o corno possua um carro, ele certamente irá estacioná-lo na porta da casa de alguém (pode ser na sua), ligar o som no volume máximo, numa música que só um corno aguenta escutar (e que só um corno foi capaz de compor).
Já fui vítima de vários ataques desse tipo. Estava eu certa vez, quieta em meu lugar, tentando me concentrar em algo importante no qual vinha trabalhando há meses, quando do nada escuto um barulho que parecia que ia derrubar as portas da casa. Era o som de um carro no volume máximo ligado numa música do Grupo Raça Negra e, acompanhando da música, um gemido sofrido de dois seres que cantavam a letra a plenos pulmões.
Como não conheço direito o grupo, não sei dizer o nome da música, mas era uma tristeza tão grande dessas duas criaturas! Eles reclamavam Um para o outro sobre como estavam infelizes, debatiam os trechos da música, coisas do tipo “Você jogou fora o amor que eu te dei o sonho que sonhei, isso não se faz.”.
Tentei ignorar o barulho, mas era inútil, e foi se intensificando de uma forma que se tornou impossível fazer o que quer que fosse a não ser escrever esse texto como forma de protesto contra todos os cornos sem noção. 

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Impessoal

 
Olhei-me no espelho
 e vi
 pela primeira vez
 um rosto familiar
O meu rosto
 incerto e impessoal
De tantas outras vezes
De tantas outras formas
De tantos outros poemas...

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Interior


Fechei a porta e não olhei pra trás,
Saí pra não voltar!
Quis sair de mim
Para afastar-me de ti,
Pra fugir de cada pedaço teu que me assombra aqui dentro!

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

O último poema


Experimento outra vez essa sensação
Um sentimento sem sentido
Que me faz sentir-me 
um ser pequeno, ridículo.

Poeta tolo,
Perdido em devaneios.
Coração bobo,
Enciumado por desejos alheios.

Incontrolado.

Involuntário sentir,
Que faz o poeta sentir-se menor.
Dominou os versos, as palavras, e algumas ficções,
Mas se entrega facilmente e se deixa manipular por seus desejos e emoções.

Pobre poeta fraco!

Trocaria o coração por um frasco de ousadia.
Trocaria a emoção por um instante só de paz.
Nem que lhe fugissem as palavras
E de sua poesia, só restasse,
Esse último poema
e nada mais. 

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

O cheiro da morte



Era quase novembro
E seu peito já sentia o frio mais presente
Seus lábios sentiam a saudade mais intensa
E seu corpo sentia aquela ausência ainda mais ardente
As folhas que os galhos soltavam nas ruas
Deixava-as ainda mais entristecidas
Ruas vazias de gente
Cobertas de folhas sem vida
Um cheiro intenso e por vezes familiar
Invadia seus sentidos
Um cheiro que entrava pelos poros, boca, nariz e ouvidos
Quase um dejavu
Como um retrato do tempo emoldurado pela vida
Era o cheiro da morte traduzido em tudo
Nas folhas que caíam ao chão
No vento que arrasta outros odores
No perfume embalsamado de algumas flores
Nos troncos de algumas árvores
Ou mesmo em seus galhos podres
Não sabia de onde vinha, mas ainda assim reconhecia
Aquele cheiro incomum
O cheiro da morte
Presente em pequenos pedaços de nostalgia.

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Ciúme



Provou outra vez o ciúme
Aquele gosto amargo
Que entala na garganta
Como um vinho seco barato
Que fere até as entranhas
Sentiu-se então irracional
Sentimento sem sentido
Ciúme
e desejo reprimido!!!

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Psicopatas me perseguem!


O povo tem mania de dizer que cada pessoa tem um dom de atrair alguma coisa:



- Fulano só atrai coisa ruim!



- Não sei quem só atrai homem safado!



E outras coisas assim.



No meu caso, podemos dizer que eu atraio psicopatas (Não vou dizer que “só” atraio psicopatas , porque seria mentira, também atraio gente besta, chata, ignorante, bêbados e tudo o mais de ruim que se possa imaginar, mas isso já seria assunto para outro texto).



Voltando aos psicopatas, meu primeiro contato com um foi um professor de sociologia da faculdade. Ele não parecia perigoso, mas tinha a maior cara de doido. Nas aulas ninguém sabia do que ele estava falando, viajava demais, tinha um mundo próprio, parecia mais um aluado, um Tonho da Lua. Porém, ele tinha uma mania de falar com as pessoas olhando para o nada e de se virar de repente para alguém (lê-se: EU) enquanto falava com outra pessoa e começar a rir do nada. Aquilo sempre me assustou. Sempre achei que ele ficava imaginando formas de matar as pessoas enquanto olhava pra elas, por isso perdia o nexo do que estava falando e começava a rir. Isso sem contar no prazer que ele tinha em falar sobre o suicídio! Acho que Descartes foi o único pensador que vimos nessa disciplina. Ainda bem que foi só por um período.



Ainda na faculdade, apareceu um cara que até hoje não sei como conseguiu se matricular em uma disciplina do quinto período sem nunca ter cursado nada do curso antes. Ele era, aparentemente, só mais um desses caras desinteressados que por algum motivo se matricula numa disciplina sem o menor interesse de cursá-la. Na verdade, ele era matriculado em duas disciplinas, porém, pouco aparecia na sala de aula, e quando vinha deixava o clima tenso. A criatura era metida a repórter policial e adorava falar sobre assuntos relacionados à morte. Ele interrompia a aula para falar que tinham acabado de matar alguém. Ele adorava comentar os detalhes acerca das mortes mais violentas que aconteciam, seus olhos brilhavam enquanto ele falava disso, e quanto mais sangue a história tivesse, mais empolgado ele ficava (Deveria ter iniciado carreira no Instituto Médico Legal). A turma inteira ria dele e ao mesmo tempo sentia um certo receio. Até que um dia ele foi reprovado (o que já era de se esperar de uma pessoa que mal vai à aula e quando vai é só pra interromper falando de assuntos sombrios). Entretanto, parece que ele não esperava isso, por certo achava que suas “preciosas” informações sobre a morte alheia iria lhe render uma nota máxima em todas as atividades. O fato é que esse homem se revoltou na sala de aula e ameaçou a turma inteira, disse que morreria logo, mas que antes disso levaria um bocado de gente com ele. Foram meses assistindo aula com as portas trancadas.



Poucos meses depois desse episódio, comecei a trabalhar dando aulas de português numa escola pública de ensino fundamental. Logo de início a diretora me deixou muito animada:



-Pode ficar tranquila, você não terá aulas no sexto ano ‘B’.



Fiquei sem entender o porquê de isso ser um motivo de alegria ou tranquilidade. Dias depois soube que um aluno dessa referida turma tinha atirado uma cadeira contra um professor certa vez. Nesse dia compreendi o sentido da palavra alívio. Ilusão a minha. Até parece que meus problemas iriam se resumir a uma turma. Os alunos eram incontroláveis e eu tentava não sair correndo durante as aulas. Mas tinha que manter uma postura, afinal, estágio ou não, eu estava ali como professora, precisava impor algum respeito. Numa dessas ocasiões em que precisei me impor, estava no meio de uma explicação quando percebi que um dos alunos além de não estar prestando atenção ao que eu dizia, estava ouvindo música e atrapalhando o meu raciocínio. Pedi que ele parasse, e ele fingiu não escutar. Fui até a cadeira dele e disse que se não parasse eu ia ter que tomar o celular e que só o devolveria após o término da aula. Nesse momento ele retirou um dos fones, ficou de pé (ele tinha quase o dobro da minha altura e eu só percebi isso naquele dia), me olhou com um ódio tão sincero (o que me fez sentir um nó na garganta) e disse assim:



-Professora, eu gosto de ouvir música (Ele falava e me olhava com muita raiva). E quando eu não escuto, eu fico muito nervoso! (A ênfase que ele usou na palavra ‘muito’ me fez sentir arrepios).



Minha sorte nesse episódio foi a interrupção da aula por uma das coordenadoras da escola para dar um aviso. Depois disso, jurei pra mim mesma que da próxima vez que ele ouvisse música, eu dançaria com ele. Mas como ele pouco ia à escola, não me causou mais problemas.



Já trabalhando como jornalista, encontrei certa vez um senhor que tinha verdadeiro fascínio pela dor dos outros e por histórias sobre corpos em estado de putrefação. Quando viu que eu era repórter o homem logo se aproximou e começou a puxar conversa sobre o assunto. Como o entrevistado me deu um belo chá de cadeira, tenho histórias pra lembrar e sentir nojo até hoje. Minha sorte foi que o entrevistado apareceu justo na hora que o homem ia falar sobre o corpo de um senhor que tinha sido esfaqueado e foi encontrado dias depois em um rio.



Um dia desses, saí com uma amiga para uma lanchonete perto de casa, e encontramos um conhecido dela. O cara além de chato gostava de forçar intimidade. Resolvemos então sentar numa mesa afastada da dele. Esforço inútil. Minutos depois ele chegou e sentou na nossa mesa sem ninguém convidar e começou a falar um monte de coisas sem sentido. Vendo minha cara de desinteressada ele perguntou se eu já tinha terminado a faculdade na UERN. Como não me recordava dele, perguntei de onde o conhecia e ele respondeu:



- Você não me conhece. Eu conheço você.



Foi meio estranho, mas como conheço muita gente, pensei que pudesse ser algum amigo em comum ou coisa assim. E também, a insistência dele em falar coisas sem sentido não me deixava nem raciocinar direito. Eu só olhava pra minha amiga, que também estava agoniada, e ríamos daquela situação sem nexo. Foi quando ele se virou pra mim e disse:



- E você está rindo do que? Eu sei onde você mora!



Até o andar do meu apartamento ele sabia! Nessa hora meu único desejo era de correr, mas minhas pernas estavam trêmulas demais para isso. Pior foi ele tentando explicar uma coisa que não conseguíamos entender, aí ele se irritou e começou a bater na mesa. Mas no final, ele se foi sem maiores problemas. Não sei nem como cheguei em casa àquela noite. Só sei que não aguentei dormir sozinha e fui para a casa de um amigo.



O bom de todas essas histórias é que você se acostuma, um dia desses um amigo revelou que achava que era um psicopata e que estava preocupado com isso. Eu apenas ri e disse pra ele ficar tranquilo, afinal, eu já era acostumada com esse tipo de pessoa.

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Madrugadas insones


Nas madrugadas insones
Desenho meus sonhos
Entre as estrelas que avisto pelo vidro da janela

Meu rosto iluminado pelos astros ou pela chama acesa de um cigarro
Um trago
Cinzas e o nada

E a cada sonho, a cada trago,
Me afasto da realidade,
Me aproximo mais de mim

sábado, 30 de julho de 2011

Alivia-me, poesia


Nela, e só nela encontro a calmaria que preciso.
E Minh ’alma já não é mais tão sozinha,
E minha vida já não é mais tão vazia.

Pois ela liberta-me e me renasce em cada verso.

Encontro-me em seus retratos e nos abraços de seus passos.
Só assim me fortaleço e enfim esqueço.
E só assim eu me refaço
Das angustias e agonias por que passo.

Pois em teus braços eu afogo a nostalgia
Como se arrancasse de mim essa aflição
E a deixasse largada e adormecida em cada linha que me tange
Deixando a alma mais leve ao livrar-me das palavras e sentimentos
Que transcrevo para ela com meu sangue.

terça-feira, 26 de julho de 2011

Café com Roberto Carlos

Aviso logo de início aos fãs do cantor Roberto Carlos, que não, eu não me encontrei nem tomei café com ele, até porque essa história de “um café pra nós dois” (Como já satirizava o Renato Aragão) comigo não rola, detesto miséria, pra mim cada um tem que ter o seu próprio café. “Mas essa história também é interessante”.
Sabe aqueles dias em que você acorda já ou ainda morrendo de sono? Pois é, um dia desses acordei assim, e atrasada para um compromisso importante. Decidi então não tomar café em casa, pois moro sozinha, logo, teria eu mesma que fazer o tal café, isso além de tempo demandaria esforço, e esforço nesse dia era uma palavra que já estava esgotada em meu vocabulário. Só o fato de estar acordada, ou pelo menos parcialmente acordada, já era o bastante para que não fosse justo o dia me cobrar qualquer outro tipo de esforço.
Pois bem, botei meus óculos escuros para encobrir as olheiras e saí de casa. Fui à lanchonete da esquina, bonitinha, limpinha, fiquei até admirada, pois a cozinha deles é aberta e todos os clientes podem ver como está sendo preparada a comida.
Sentei no balcão (numa cadeira ao lado do balcão e não em cima do balcão. Pode parecer desnecessário esse tipo de explicação besta, mas acredite, não é. Isso vindo de quem já fez de quase tudo nessa vida) e pedi qualquer coisa que não tenha carne (não como bicho morto). Logo me veio a primeira e mais trivial irritação do dia e de toda vez que procuro algo para comer fora de casa. A mulher da lanchonete olhou pra mim e teve a audácia de dizer: “tem esse aqui com frango e catupiry, esse de presunto e esse é só com salsicha”. Me subiu uma veia na testa, mas tive que me conter, afinal, já deveria ter me acostumado, um vegetariano é, antes de tudo, um forte. Em todo lugar que você chega e pede algo sem carne pra comer as pessoas te oferecem frango, presunto, linguiça... Teve até uma mulher uma vez que ousou me oferecer carne de porco como opção. Carne de porco não é carne? Presunto, frango e afins também não?
Enfim, diante dessa constante me acostumei com a ignorância de alguns e a desinformação de outros e costumo sempre perguntar se eles têm alguma comida que não use bichos mortos como ingrediente, ou, quando quero ser mais sutil, peço algo só de queijo, ou palmito, etc. Ainda assim acontecem incidentes. Tipo uma vez que pedi um salgado de queijo e a mulher me trouxe queijo com presunto e ainda argumentou quando fui reclamar: “é a mesma coisa”. Nem vou revelar o que tive vontade de fazer com aquele salgado, mas demonstraria a ela com presunto e sem presunto pra ela me dizer a diferença, embora nesse caso, eu deva concordar que talvez o presunto não fosse ter nenhum grande diferencial.
Mas retomando a questão inicial, não me estressei com a mulher da lanchonete e pedi um sanduíche. Enquanto esperava pedi um café expresso. A outra mulherzinha que trabalhava na lanchonete trouxe e me perguntou se eu não preferia sentar na mesa (como já disse antes, numa cadeira próxima à mesa e não na mesa em si, só pra não ter confusão com situações passadas), dispensei a sugestão e disse que estava bem ali mesmo no balcão.
Enquanto esperava reparei na organização do lugar. Eram apenas duas funcionárias, mas trabalhavam em sintonia, mantendo o atendimento eficaz e a limpeza do ambiente. Até fiz um elogio (coisa que só faço se realmente vir motivo, pois não faço a linha puxa saco, se não for o contrário, isso é que eu não sou mesmo). Logo o estabelecimento ficou vazio, àquela hora, também, era de se esperar, pois pra ser bem sincera, já era hora de o povo começar a procurar almoço, coisa que lá não servia.
Quando os clientes começaram a pagar as contas comecei a perceber uma forma digamos ‘diferente’ de atendimento no local. A mulherzinha que atendia era muito mal humorada. Uma das clientes questionou o valor da conta e ela logo veio até a cliente com o cardápio e explicou-lhe em ‘voz alta’ que tudo que foi cobrado estava de acordo com o que foi consumido. A cliente se calou e se foi. E eu senti vergonha alheia.
A essa altura o local ficou praticamente vazio, eu era a única cliente lá. Aí a mulherzinha mal humorada veio mais uma vez falar comigo: “seu pedido pode demorar, não prefere esperar na mesa?”. Mais uma vez disse-lhe que estava bem onde estava.
Alguns instantes de silêncio e de repente a mulherzinha começou a cantar uma música de Roberto Carlos que minha mãe ouvia muito quando eu era criança e dizia que a fazia lembrar o tempo em que namorava meu pai. Óbvio que querendo ou não essa música fez parte da minha história, afinal, o apego da minha mãe a ela, me fazia ter que ouvi-la todos os dias de minha trágica infância (triste isso, não?).
Pra ser sincera até admito meu lado clichê e admito também gostar de algumas músicas de Roberto Carlos e da Jovem Guarda (Mas não espalhem isso. Sabe como é, “tenho que manter a minha fama de mau”). Entretanto, a tal música cantada de forma tão desafinada, a calmaria da outra mulher que preparava o lanche, o ambiente vazio, tudo aquilo me fez lembrar cenas de um filme de terror, onde em questão de segundos o cliente é devorado por monstros, zumbis, fantasmas ou assassinos loucos, ou tudo isso ao mesmo tempo.
Comecei a ficar aflita (neurótica eu? Porque você acha isso? Como assim? Tem algo errado comigo?). Mas aí chegou outra cliente; relaxei mais. Enquanto limpava os pratos a mulherzinha cantora, entre um verso e outro, reclama dos clientes que deixavam restos de comida nos pratos e mesas.
E a cantoria continuava: “Eu seeeeeeeeeeei.... No volante eu penso nela, já pintei no para-choque um coração e o nome dela”. Aliás, minha mãe e o Roberto Carlos que me perdoem, mas pra mim esse caminhoneiro dessa música queima. Que espécie de caminhoneiro tem um coração pintado no para-choque? Como assim gente? Eu daria gargalhadas se visse uma marmota dessas, e se o coração tivesse um nome dentro, eu ia rir o dobro. Acho que o Roberto Carlos estava meio drogado quando escreveu essa letra.
Sei que enquanto eu fazia a análise do discurso do Roberto, a cliente que havia chegado há pouco tempo, perguntava se elas tinham mousse de maracujá. Do outro lado do balcão a resposta foi categórica: “o que tem tá aí, procure”. Essa doeu até em mim.
Nesse momento meu lanche ficou pronto. Pedi um refrigerante pra acompanhar e foi minha vez de levar uma bela resposta: “Refrigerante é ali, vá pegar”. Quase choro com essa, afinal, poxa, eu fiz um elogio a elas segundos antes. Mas fui lá e peguei minha própria Coca Cola Ks 290 ml.
Quando sentei para comer, parece que realmente estava incomodando com minha permanência no balcão, a outra mulher sugeriu mais uma vez: “se quiser pode ir comer ali na mesa”. Deu vontade de perguntar qual era o problema de ficar ali na droga daquele balcão, mas me contive, até porque a outra mulherzinha continuava cantando a música do caminhoneiro fruta e isso estava começando a ficar realmente chato. Logo percebi qual era o problema dela. Terminei de comer, paguei a conta e dei no pé. Pra mim aquele mau humor todo tem nome: dor de corno mal curada. Não duvido nada que daqui uns dias ela tenha pintado um coração na fachada da lanchonete, e com um nome dentro! 

sábado, 23 de julho de 2011

Morre a cantora Amy Winehouse: um mito que se cala

Morre, aos 27 anos, a cantora britânica Amy Winehouse. Na minha opinião uma das maiores artistas dos últimos tempos, voz perfeita e estilo único. Independente dos barracos e dos escândalos, Amy era muito talentosa e isso não pode ser negado. Sua vida dividiu-se entre o sucesso e o fundo do poço por causa das drogas e de um amor doentio. O mínimo que ela merece agora é respeito e reconhecimento. E podemos ter certeza que a história da Amy não acaba aqui, mesmo jovem ela conseguiu se destacar a ponto de merecer ser lembrada para sempre como uma das melhores cantoras de nossa época. 



Acompanhe informações do site G1:



Cantora Amy Winehouse é encontrada morta


 


em Londres

Rede britânica Sky News publicou informação neste sábado.
Polícia confirmou que encontrou corpo da cantora em sua casa.

Do G1, em São Paulo
Amy Winehouse durante show em Belgrado, em que foi vaiada (Foto: AP)Amy Winehouse durante show em Belgrado
(Foto: AP)
A cantora Amy Winehouse foi encontrada morta em sua casa, em Londres, neste sábado (23), segundo a polícia de Londres. A cantora tinha 27 anos e um histórico de envolvimento com álcool e uso de drogas.
A cantora se apresentou em turnê pelo Brasil em janeiro deste ano, com shows em Florianópolis, Rio de Janeiro, Recife e São Paulo.


















sexta-feira, 22 de julho de 2011

Alterna comunicação se prepara para lançar filme sobre o Rio Mossoró

O lançamento do curta de ficção que aborda a situação do Rio Apodi- Mossoró, produzido pelo grupo alterna comunicação, se aproxima. O grupo ainda não divulgou datas, mas disponibilizou hoje algumas imagens com cenas do filme.
Para ver essas imagens, clique aqui.
Em breve Mossoró irá conhecer ‘Memórias do Rio da Morte’.
Um filme produzido na cidade, por gente que mora na cidade. 

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Macumbeira, Mãe de Santo, ou Psicóloga?



Eu devo ter algum dom muito especial que ainda não descobri. E não digo isso pra amenizar minha falta de talento para as coisas com as quais me envolvo. Sei que sou lesada, desastrada e muito, muito tapada (eleve isso ao cubo quando for se referir a questões amorosas). Mas enfim, não é essa propriamente a questão, se fosse fazer um texto só pra dizer que sou tapada não traria nenhuma novidade a ninguém. Inclusive já sofri muito com isso e também com o fato de achar que não tenho vocação para nada. Adoro fazer um monte de coisas, mas sou sempre um fracasso. Minha mãe queria que eu fosse professora, meu pai queria que eu fosse advogava, virei jornalista, escrevo poesia, moro com um gato e tenho um violão. Tudo a ver né?
E daí que nessas minhas andanças pelo mundo (lê-se nas ruas de Mossoró) acabo encontrando muita gente, e pode parecer difícil de acreditar, mas são pessoas mais estranhas do que eu. E essas pessoas estranhas pertencentes a um determinado perfil acabam sempre me abordando da mesma forma: Quando estou sozinha e com cara de ‘hoje eu não quero falar com ninguém’.
Um exemplo: estava eu uma vez com o humor de pit bull que viu um gato e uma expressão de porta, com fones de ouvido e óculos escuros numa parada de ônibus, que por sinal estava atrasado mais de 40 minutos, e detalhe: eu estava com muita pressa. O que eu menos queria era ter que abrir minha boca para falar. Mas, eis que me aparece um senhorzinho com cara de quem acaba de ser libertado da Mário Negócio*, põe a mão no meu ombro e pergunta: “você viu se o ônibus que vai pro Vingt Rosado** já passou?”. Sem tirar meus fones ou mudar a expressão do rosto respondo apenas: “Não”. Me viro e fico lá com a mesma expressão, de repente o senhorzinho vem de novo: “você sabe algum outro ônibus que passa por lá?”. Eu: “Não senhor, pergunte ali para o funcionário da empresa”. Achando que enfim teria me livrado dele o homem parece ter esquecido do ônibus e sua única meta agora era me tirar do sério. Veio outra vez onde eu estava e começou: “minha filha mora lá, ela já está com dois filhos, um marido que não presta, levando uma vida miserável coitada. Mas bem feito pra ela, quis levar a vida da mãe, que era puta, tá aí, no mundo...” Ele falava sem parar e mesmo sem eu dar a mínima para o que ele estava contando o cara não parava. Eu estava dando voltas dentro de mim de tanta raiva, mas decidi ficar na minha, tive que tirar meus fones pra não parecer mal educada, e fiquei ali rezando ainda mais para que a droga do ônibus chegasse logo. Me distraí um pouco e quando fui ver lá estava ele ainda falando sem parar, agora falava sobre um amigo que era alcóolatra e eu não sei como a conversa chegou a esse ponto, mas nada parecia ser capaz de calar a boca dele. De repente o ônibus que eu tanto esperava apareceu, quase morri de alegria, mas como alegria de pobre dura pouco, o cara que parecia que o único rumo que queria tomar era o meu, entrou no mesmo ônibus, sentou do meu lado e me azucrinou a viagem toda, confesso que desci duas paradas antes da que eu ia descer para não ter que suportar mais aquilo.
Outra vez foi uma senhora que me abordou num supermercado e do nada começou a falar do filho dela que tinha falecido. Eu estava com a mesma cara introspectiva de sempre, mas tentei ser simpática dessa vez. PRA QUE? A  mulher grudou em mim e me perseguiu por cada sessão do supermercado, “ai porque meu filho isso, meu filho aquilo, ele era tão moço” e por aí vai. Depois ela veio me dizer que o filho dela tinha 60 anos quando morreu, há mais de 3 anos.
Fatos assim não são difíceis de acontecer comigo. Nem de ressaca eu escapo. Estava saindo de uma festa morta de cansada e com meus sentidos um pouco afetados pelo excesso de líquido não vendido em lanchonete de escola que havia ingerido, quando uma mulher veio sentar ao meu lado. Era de manhã e eu esperava uns amigos para ir embora. A mulher parecia estar voltando da sua caminhada. Não sei por que causa, motivo, razão ou circunstância ele veio e sentou do meu lado, na calçada, às 05h30min da manhã. Ela nem disse oi e já foi logo soltando: “esses jovens que frequentam esse lugar aí, nenhum presta, nenhum tem Deus, pra vir pra cá eles vêm, mas não vão uma missa, não têm Jesus, eles vêm pra cá pra ‘fumar loló’, pra ‘cheirar maconha’...” Percebi na hora que ela estava obviamente insinuando que eu tinha acabado de sair de uma boca de fumo, até pensei em revidar e dar uma resposta a altura, mas me recusei a dialogar com alguém que usa as expressões ‘fumar loló’ e ‘cheirar maconha’. Fiquei na minha e me afastei, mas ela era insistente, se aproximou e começou a falar sobre o quanto a juventude estava perdida e pedia pra eu concordar: “você não acha?”. Fiquei ali em dúvida entre o suicídio, matar a mulher pra ver se ela calava a boca, ou matar meus amigos por me deixarem sozinha com uma doida que desabafa com uma bêbada às 5hs da manhã.
Outra vez foi numa boate, numa festa dessas que o melhor momento é aquele em que você entra no carro pra ir embora. Uma mulher com cara de “fugi hoje do São Camilo*** se aproximou de mim e do carinha que estava comigo e começou a contar a vida dela, que tinha 37 anos mas morava com os pais por que não queria trabalhar, mas que agora estava difícil por que o pai não queria mais ela em casa. Aí meu amigo perguntou: “e você faz o que da vida?”. Aí ela: “Eu venho pra cá”. Pedi licença ao meu amigo e fui tentar morrer até chegar a hora de irmos embora.
O pior de tudo isso é que essas coisas sempre acontecem. Eu pareço ter um imã pra atrair pessoas inconvenientes e completamente desequilibradas e sem a menor noção das coisas. Ora, que ser humano sensato se encosta num desconhecido e começa a desabafar sobre as coisas mais bizarras? Meus pais talvez tivessem razão em não apoiar minha decisão de ser jornalista, e não é por causa do salário que estou voltando atrás agora. A questão é de vocação mesmo, acho que minha vocação deve ser ou pra macumbeira, ou mãe de santo, ou psicóloga. Só isso explicaria esses fatos. Por que sinceramente, já estou pra tentar ‘vestibular’ pra algum desses ‘cursos’. E olhe, se eu cobrasse por cada vez que isso já aconteceu, estava ganhando melhor do que o piso de um jornalista! 






*Mário Negócio é uma penitenciária de Mossoró
**Vingt Rosado é o nome de um bairro de Mossoró
***São Camilo é uma casa de saúde mental de Mossoró