domingo, 18 de março de 2012

A poesia paga a conta



- O que você vai fazer com o dinheiro que apurou com a venda de seu primeiro livro?
Muita gente tem me perguntado isso, agora que me julgam escritora.
- Você deveria investir!
- Poderia guardar pra publicar seu próximo trabalho.
São alguns conselhos válidos. Mas a verdade é que nunca escrevi poesia pensando em ganhar dinheiro. Só escrevi por dinheiro quando trabalhava em redação de jornal, e mesmo assim, era quase em vão. Não se ganha muita coisa quando se trabalha como jornalista.
O tal glamour, do qual muitos se gabam, é sustentado por aparências, puxa-saquismo, e muita babação de ovo. A grande maioria dos jornalistas que conheço é um bando de lascados. Os que conseguem um pouco mais nessa profissão, praticamente, vendem suas almas; não ao Diabo, mas a coisa pior: à uma linha editorial que lhe arranca o senso crítico, e/ou a uma jornada de trabalho que lhe rouba a vida. Esse sim, é o grande e bem sucedido jornalista. Admiro quem consegue tal proeza, mas cada dia acredito mais que isso não é pra mim.
Não levo jeito pra ganhar dinheiro com isso. Me formei em jornalismo por paixão e creio que o faria de novo. Porém, hoje, percebo que minha paixão era muito mais por pesquisar/estudar do que fazer jornalismo de fato. O sentido utópico do jornalismo é muito bonito, mas a realidade é cruel e estuprou todos os meus sonhos. Fui estúpida por acreditar que conseguiria burlar o sistema.
Se, por um lado, o jornalismo me obrigava a escrever de acordo com ideias alheias e unicamente por dinheiro; por outro lado, é na poesia, na crônica, nas resenhas e em tantas outras formas textuais, que posso sentir o verdadeiro prazer de escrever.
Acredito que o ato da escrita não pode e não deve ser uma coisa mecânica. Por isso me doía tanto trair meus ideais na construção de uma matéria. Eu ganhava pouco, mas o pouco que me era pago não me permitia ter opinião, pensamento ou crítica. Eu era paga pra obedecer.
Insatisfação somada a um salário ruim acaba fazendo com que você reveja os rumos de sua vida. Hoje encontrei outra forma de ganhar dinheiro, que também é pouco, mas pelo menos sou livre para pensar. Desde que saí do meu último emprego como jornalista, em junho de 2011, escrevo apenas por prazer. E se é por puro prazer que escrevo, e se também já tenho como sobreviver, por que ficar fazendo planos e me questionando a respeito de que forma irei gastar o dinheiro que ganhar com minhas poesias? Até porque, não se trata de nenhuma fortuna.
Da primeira quantia que recebi, referente à venda do livro (publicado em coautoria com outros escritores), retirei uma parte e fui para um bar. Muitas de minhas poesias foram escritas numa mesa de bar, ou após sair de uma. Nada mais justo do que retribuir à cerveja com o dinheiro vindo das poesias que ela ajudou a criar. Não, não pretendo gastar tudo que ganhar com o livro em bebidas. Mas enquanto eu escrever e receber alguma coisa por isso, uma vez ou outra, a poesia pagará minha conta no boteco.