terça-feira, 26 de julho de 2011

Café com Roberto Carlos

Aviso logo de início aos fãs do cantor Roberto Carlos, que não, eu não me encontrei nem tomei café com ele, até porque essa história de “um café pra nós dois” (Como já satirizava o Renato Aragão) comigo não rola, detesto miséria, pra mim cada um tem que ter o seu próprio café. “Mas essa história também é interessante”.
Sabe aqueles dias em que você acorda já ou ainda morrendo de sono? Pois é, um dia desses acordei assim, e atrasada para um compromisso importante. Decidi então não tomar café em casa, pois moro sozinha, logo, teria eu mesma que fazer o tal café, isso além de tempo demandaria esforço, e esforço nesse dia era uma palavra que já estava esgotada em meu vocabulário. Só o fato de estar acordada, ou pelo menos parcialmente acordada, já era o bastante para que não fosse justo o dia me cobrar qualquer outro tipo de esforço.
Pois bem, botei meus óculos escuros para encobrir as olheiras e saí de casa. Fui à lanchonete da esquina, bonitinha, limpinha, fiquei até admirada, pois a cozinha deles é aberta e todos os clientes podem ver como está sendo preparada a comida.
Sentei no balcão (numa cadeira ao lado do balcão e não em cima do balcão. Pode parecer desnecessário esse tipo de explicação besta, mas acredite, não é. Isso vindo de quem já fez de quase tudo nessa vida) e pedi qualquer coisa que não tenha carne (não como bicho morto). Logo me veio a primeira e mais trivial irritação do dia e de toda vez que procuro algo para comer fora de casa. A mulher da lanchonete olhou pra mim e teve a audácia de dizer: “tem esse aqui com frango e catupiry, esse de presunto e esse é só com salsicha”. Me subiu uma veia na testa, mas tive que me conter, afinal, já deveria ter me acostumado, um vegetariano é, antes de tudo, um forte. Em todo lugar que você chega e pede algo sem carne pra comer as pessoas te oferecem frango, presunto, linguiça... Teve até uma mulher uma vez que ousou me oferecer carne de porco como opção. Carne de porco não é carne? Presunto, frango e afins também não?
Enfim, diante dessa constante me acostumei com a ignorância de alguns e a desinformação de outros e costumo sempre perguntar se eles têm alguma comida que não use bichos mortos como ingrediente, ou, quando quero ser mais sutil, peço algo só de queijo, ou palmito, etc. Ainda assim acontecem incidentes. Tipo uma vez que pedi um salgado de queijo e a mulher me trouxe queijo com presunto e ainda argumentou quando fui reclamar: “é a mesma coisa”. Nem vou revelar o que tive vontade de fazer com aquele salgado, mas demonstraria a ela com presunto e sem presunto pra ela me dizer a diferença, embora nesse caso, eu deva concordar que talvez o presunto não fosse ter nenhum grande diferencial.
Mas retomando a questão inicial, não me estressei com a mulher da lanchonete e pedi um sanduíche. Enquanto esperava pedi um café expresso. A outra mulherzinha que trabalhava na lanchonete trouxe e me perguntou se eu não preferia sentar na mesa (como já disse antes, numa cadeira próxima à mesa e não na mesa em si, só pra não ter confusão com situações passadas), dispensei a sugestão e disse que estava bem ali mesmo no balcão.
Enquanto esperava reparei na organização do lugar. Eram apenas duas funcionárias, mas trabalhavam em sintonia, mantendo o atendimento eficaz e a limpeza do ambiente. Até fiz um elogio (coisa que só faço se realmente vir motivo, pois não faço a linha puxa saco, se não for o contrário, isso é que eu não sou mesmo). Logo o estabelecimento ficou vazio, àquela hora, também, era de se esperar, pois pra ser bem sincera, já era hora de o povo começar a procurar almoço, coisa que lá não servia.
Quando os clientes começaram a pagar as contas comecei a perceber uma forma digamos ‘diferente’ de atendimento no local. A mulherzinha que atendia era muito mal humorada. Uma das clientes questionou o valor da conta e ela logo veio até a cliente com o cardápio e explicou-lhe em ‘voz alta’ que tudo que foi cobrado estava de acordo com o que foi consumido. A cliente se calou e se foi. E eu senti vergonha alheia.
A essa altura o local ficou praticamente vazio, eu era a única cliente lá. Aí a mulherzinha mal humorada veio mais uma vez falar comigo: “seu pedido pode demorar, não prefere esperar na mesa?”. Mais uma vez disse-lhe que estava bem onde estava.
Alguns instantes de silêncio e de repente a mulherzinha começou a cantar uma música de Roberto Carlos que minha mãe ouvia muito quando eu era criança e dizia que a fazia lembrar o tempo em que namorava meu pai. Óbvio que querendo ou não essa música fez parte da minha história, afinal, o apego da minha mãe a ela, me fazia ter que ouvi-la todos os dias de minha trágica infância (triste isso, não?).
Pra ser sincera até admito meu lado clichê e admito também gostar de algumas músicas de Roberto Carlos e da Jovem Guarda (Mas não espalhem isso. Sabe como é, “tenho que manter a minha fama de mau”). Entretanto, a tal música cantada de forma tão desafinada, a calmaria da outra mulher que preparava o lanche, o ambiente vazio, tudo aquilo me fez lembrar cenas de um filme de terror, onde em questão de segundos o cliente é devorado por monstros, zumbis, fantasmas ou assassinos loucos, ou tudo isso ao mesmo tempo.
Comecei a ficar aflita (neurótica eu? Porque você acha isso? Como assim? Tem algo errado comigo?). Mas aí chegou outra cliente; relaxei mais. Enquanto limpava os pratos a mulherzinha cantora, entre um verso e outro, reclama dos clientes que deixavam restos de comida nos pratos e mesas.
E a cantoria continuava: “Eu seeeeeeeeeeei.... No volante eu penso nela, já pintei no para-choque um coração e o nome dela”. Aliás, minha mãe e o Roberto Carlos que me perdoem, mas pra mim esse caminhoneiro dessa música queima. Que espécie de caminhoneiro tem um coração pintado no para-choque? Como assim gente? Eu daria gargalhadas se visse uma marmota dessas, e se o coração tivesse um nome dentro, eu ia rir o dobro. Acho que o Roberto Carlos estava meio drogado quando escreveu essa letra.
Sei que enquanto eu fazia a análise do discurso do Roberto, a cliente que havia chegado há pouco tempo, perguntava se elas tinham mousse de maracujá. Do outro lado do balcão a resposta foi categórica: “o que tem tá aí, procure”. Essa doeu até em mim.
Nesse momento meu lanche ficou pronto. Pedi um refrigerante pra acompanhar e foi minha vez de levar uma bela resposta: “Refrigerante é ali, vá pegar”. Quase choro com essa, afinal, poxa, eu fiz um elogio a elas segundos antes. Mas fui lá e peguei minha própria Coca Cola Ks 290 ml.
Quando sentei para comer, parece que realmente estava incomodando com minha permanência no balcão, a outra mulher sugeriu mais uma vez: “se quiser pode ir comer ali na mesa”. Deu vontade de perguntar qual era o problema de ficar ali na droga daquele balcão, mas me contive, até porque a outra mulherzinha continuava cantando a música do caminhoneiro fruta e isso estava começando a ficar realmente chato. Logo percebi qual era o problema dela. Terminei de comer, paguei a conta e dei no pé. Pra mim aquele mau humor todo tem nome: dor de corno mal curada. Não duvido nada que daqui uns dias ela tenha pintado um coração na fachada da lanchonete, e com um nome dentro! 

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