segunda-feira, 22 de janeiro de 2018

Diário de sobrevivência


Primeiro pensei que ia morrer, depois quis sair no meio da rua, no pingo da méi dia e te implorar que voltasse, mesmo eu sabendo que a culpa pelo nosso fim era mais sua que minha. Quis implorar para que você ficasse mesmo eu tendo te mandado embora. Pois mesmo eu tendo te mandado ir, essa escolha não foi minha. Estava em suas mãos e você jogou fora, como se não fosse nada. Você me jogou fora como se eu não fosse nada. Vai ver, pra você, eu não era nada mesmo.

Passado um tempo, veio a mágoa e eu quis odiar você, mas só conseguia odiar a mim mesma por ainda te amar tanto, mesmo com tudo que você me fez, mesmo você me mostrando a cada dia o quanto eu fui descartável em sua vida.

Aí veio aquela fase de ligar o “foda-se” e fingir que eu não me importava mais. Arrumei distrações passageiras e parei de pensar tanto nas feridas que você me abriu e que deixou aqui infeccionadas, sangrando. Mas as distrações passaram e as feridas começaram a doer de forma ainda mais intensa, consumindo meu organismo, espalhando-se pelos órgãos, apodrecendo cada milímetro do meu ser.

Após a negação tive que lidar com a realidade em busca de aceitação. Mas como aceitar que aquele alguém que jurava me amar, que costumava ser a minha vida, que prometeu não me deixar, que imaginava envelhecer junto comigo, como aceitar que esse mesmo alguém simplesmente me trocou pela primeira ilusão que viu diante de si e foi embora sem se importar com as sequelas que isso me traria?

Ainda lembro da serenidade em seu olhar enquanto a gente discutia sobre o nosso fim, ainda lembro de como você parecia estar de boa com aquela situação, ainda lembro de mim aos prantos em nossa cama, agarrada aos nossos lençóis, enquanto você arrumava tranquilamente as suas coisas na mala. Ainda lembro da sua expressão sem lágrimas ao cruzar a porta e sair da minha vida. Às vezes, quando penso nisso tudo, ainda dói, mas aprendi a separar as coisas. A cada dia percebo a diferença entre a pessoa que eu amei e a pessoa que você é.

Houve outras fases, quis brigar, quis xingar, quis contar pra todo mundo o quanto você foi cruel e egoísta, novamente quis morrer...

O fato é que desde que você se foi cada dia tem sido uma batalha em busca de sobrevivência, um esforço sobre-humano tentando descobrir o que eu fiz de tão errado, uma briga interna tentando não enlouquecer e não ceder a desejos autodestrutivos. Mas aí eu lembro o quanto eu fui descartável pra você, lembro das coisas que ando ouvindo a seu respeito, do modo como você tem agido... e tento me acalmar e ouvir a voz da razão.

Sinto como se eu tivesse sido apenas uma aventura, um momento de rebeldia em sua vida, uma brincadeira que você enjoou de brincar, e penso como alguém pode ser tão fria, tão cruel, tão dissimulada!

As feridas que você me abriu continuam a me atormentar, a doer, dia após dia, me lembrando o quanto foi fácil pra você seguir em frente e me deixar aqui com as sobras da vida que costumávamos ter. Tenho passado por muita coisa, tenho vivido muitas fases, mas não houve um só dia em que eu não pensasse em você e isso costumava me desesperar. Agora não mais. Acostumei-me com essa sua presença latente e aceitei que vou me lembrar de você todos os dias...

até que um dia eu não lembre mais.

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