- O que você vai fazer com o
dinheiro que apurou com a venda de seu primeiro livro?
Muita gente tem me
perguntado isso, agora que me julgam escritora.
- Você deveria investir!
- Poderia guardar pra
publicar seu próximo trabalho.
São alguns conselhos válidos.
Mas a verdade é que nunca escrevi poesia pensando em ganhar dinheiro. Só
escrevi por dinheiro quando trabalhava em redação de jornal, e mesmo assim, era
quase em vão. Não se ganha muita coisa quando se trabalha como jornalista.
O tal glamour, do qual muitos
se gabam, é sustentado por aparências, puxa-saquismo, e muita babação de ovo. A
grande maioria dos jornalistas que conheço é um bando de lascados. Os que
conseguem um pouco mais nessa profissão, praticamente, vendem suas almas; não
ao Diabo, mas a coisa pior: à uma linha editorial que lhe arranca o senso
crítico, e/ou a uma jornada de trabalho que lhe rouba a vida. Esse sim, é o
grande e bem sucedido jornalista. Admiro quem consegue tal proeza, mas cada dia
acredito mais que isso não é pra mim.
Não levo jeito pra ganhar
dinheiro com isso. Me formei em jornalismo por paixão e creio que o faria de
novo. Porém, hoje, percebo que minha paixão era muito mais por pesquisar/estudar
do que fazer jornalismo de fato. O sentido utópico do jornalismo é muito
bonito, mas a realidade é cruel e estuprou todos os meus sonhos. Fui estúpida
por acreditar que conseguiria burlar o sistema.
Se, por um lado, o
jornalismo me obrigava a escrever de acordo com ideias alheias e unicamente por
dinheiro; por outro lado, é na poesia, na crônica, nas resenhas e em tantas
outras formas textuais, que posso sentir o verdadeiro prazer de escrever.
Acredito que o ato da
escrita não pode e não deve ser uma coisa mecânica. Por isso me doía tanto
trair meus ideais na construção de uma matéria. Eu ganhava pouco, mas o pouco
que me era pago não me permitia ter opinião, pensamento ou crítica. Eu era paga
pra obedecer.
Insatisfação somada a um
salário ruim acaba fazendo com que você reveja os rumos de sua vida. Hoje
encontrei outra forma de ganhar dinheiro, que também é pouco, mas pelo menos
sou livre para pensar. Desde que saí do meu último emprego como jornalista, em
junho de 2011, escrevo apenas por prazer. E se é por puro prazer que escrevo, e
se também já tenho como sobreviver, por que ficar fazendo planos e me
questionando a respeito de que forma irei gastar o dinheiro que ganhar com
minhas poesias? Até porque, não se trata de nenhuma fortuna.
Da primeira quantia que recebi,
referente à venda do livro (publicado em coautoria com outros escritores),
retirei uma parte e fui para um bar. Muitas de minhas poesias foram escritas
numa mesa de bar, ou após sair de uma. Nada mais justo do que retribuir à
cerveja com o dinheiro vindo das poesias que ela ajudou a criar. Não, não
pretendo gastar tudo que ganhar com o livro em bebidas. Mas enquanto eu
escrever e receber alguma coisa por isso, uma vez ou outra, a poesia pagará
minha conta no boteco.
Acho que preciso ler mais o seu blog, se todos os textos seguirem esse tom de realidade creio eu que achei uma leitura agradável, além é claro do teu livro que estou lendo dia apos dia.
ResponderExcluir''Mas enquanto eu escrever e receber alguma coisa por isso, uma vez ou outra, a poesia pagará minha conta no boteco.''
Adorei a frase, hahaha.
Hahahahah! Eu não meço muito o peso das palavras que escrevo, o negócio é botar pra fora. Que bom que você gostou do blog e do livro. Pode passear à vontade por meus textos, a honra é minha. Bem vindo ao meu mundo!
Excluir"Muitas de minhas poesias foram escritas numa mesa de bar, ou após sair de uma. Nada mais justo do que retribuir à cerveja com o dinheiro vindo das poesias que ela ajudou a criar. Não, não pretendo gastar tudo que ganhar com o livro em bebidas. Mas enquanto eu escrever e receber alguma coisa por isso, uma vez ou outra, a poesia pagará minha conta no boteco."
ResponderExcluirTô com você e não abro. Adorei, =D
É nois! rs! Obrigada!
ExcluirAcordou pra vida, jornalista!
ResponderExcluirFiquei sabendo do lançamento do seu livro 1 dia antes de ele acontecer e acabei não tendo como ir. Que amiga linda eu sou, hein? Ainda assim, tentei te ligar, mas enfim, deu tudo errado.
Eu sempre soube que você estava andando num caminho meio torto. Tanta "revolta" e tanta opinião, infelizmente, não foram feitas para o jornalismo. Nem aqui e nem em lugar nenhum do mundo. Jornalismo é, também, um exercício de abdicar-se um pouco de si para pensar o coletivo, sob uma ótica que não é a nossa. O jornalismo está errado? Não. Quem está errado é quem ainda acha que jornalista é super-herói, e que vai salvar o mundo com uma caneta e um bloquinho de papel. PFF!
Agora, recebendo a notícia de seu livro, pude finalmente ver você caminhando o SEU caminho. Agora sim, você vai poder matar essa necessidade de ser você :). Todos nós, que já nos acostumamos a vil realidade de contornar o sistema pelas beiradas e fazer algo diferente pelas entrelinhas, apenas o suficiente para nos satisfazer, temos que tirar o chapéu pra você, Ellen Dias.
Mocinha encrenqueira, do contra, com tanta expressividade e opinião que conseguiu transpor em um livro inteirinho lições em forma de poesia que nos acalentarão a alma quando o "sistema" não fizer sentido para nós...
Parabéns, minha querida, e saiba que eu sempre torci, e continuarei torcendo, para o teu sucesso.
Xerim da Mandy =*
Não esperava tamanha declaração aqui, mas fico muito feliz mesmo, estou em lágrimas aqui. Creio que todos nós que fizemos e fazemos jornalismo temos ou já tivemos uma visão utópica da coisa. Se eu imaginasse que você teria tempo e interesse de ir ao lançamento, teria feito um convite pessoal antecipado (que bela amiga, hein?). Mas de qualquer forma, obrigada pelas palavras.
ExcluirComo diria Raul Seixas, "não sei aonde eu tô indo, mas sei que eu tô no meu caminho".
Quando sai do Jornal, meus planos eram ir morar em Natal, pra trabalhar na área e tentar fazer mestrado. Que bom que não deu certo. Estou revendo os rumos da minha vida e vou finalmente poder fazer o que eu gosto, meus textos, meus vídeos, e me preparar para um mestrado.
Vamos adiante!
Beijos, minha querida!
Ah! A poesia é para espíritos livres!
ResponderExcluirA poesia é pra quem sabe aprecia-la... Que se leva da vida senão um punhado ou dois de desejos realizados, de histórias a bares relacionados, de amores mal resolvidos, de lágrimas jogadas fora?
A poesia é para todos os espíritos "livres"!!!
Muito bem observado Daisy! Obrigada pela visita ao blog, e obrigada por deixar sua opinião! Volte sempre! Abraços!
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