domingo, 25 de maio de 2014

Poema da ingratidão


Os sábios procuram à noite
Pelas vielas da cidade
Um grupo de vândalos e poetas loucos
Pelo crime de falarem o que pensam,
Por se negarem a pensar como os outros.

Partiram na estrada,
Sem eira nem beira,
Pela contramão,
Os poetas vagabundos,
Sonhando em mudar o mundo,
Querendo fazer revolução.

Partiram no submundo,
De pés descalços,
Em busca do horizonte,
Negando as vestes,
E as doutrinas
Dos homens sábios.

Partiram sem remorsos
Aqueles poetas ingratos,
Poetas sem nome,
Um bando de insensatos.

Apenas poetas utópicos,
Sem lei, sem autoridade.
Ébrios, de sonhos tórridos.
Poetas jamais sóbrios,
Pela sede de mudança embriagados.

Partiram deixando pra trás
A senzala e o capataz
Da escravidão da vida comum.
Partiram pelas ruas,
Cantando nos becos,
Pintando os muros.

Poetas sem rosto, e sem renome
Poetas das ruas e da cachaça,
Luiz, Rayane, Simone.

Poetas da boemia,
Alexandre, Latoya, Bia.
Poetas do mundo dos sonhos,
Poetas de muitas lutas,
Jean, André, Lucas.

Poetas da utopia,
Neto, Bob, Jedaías.
Poetas do amor e da indignação,
Poetas que sabem o que querem,
Paula, Camila, Cibele.

Seguiram de madrugada,
Fizeram uma caminhada,
Sentaram numa calçada,
Pintaram poesias na esquina.
E os sábios balbuciavam
Contra aquelas poesias de quinta.

Os sábios perseguem os loucos!

Os sábios não querem amigos,
Os sábios temem os loucos,
Os sábios só sabem da lisonja
E só acreditam na própria honra.

Os loucos estão pelos bares,
Os loucos caminham lado a lado,
Os loucos incomodam os sábios,
Pois a ingratidão se exala por seus lábios.

Que comece a caça aos ingratos,
Devem estar pelos guetos,
Com um poema na mão
Tomando vinho barato,
Falando de amor pelos becos.

Os sábios procuram à noite
Pelas vielas da cidade
Um grupo de vândalos e loucos,
Um bando de poetas ingratos,
Que fazem barulho, que andam pela periferia,
Que não sabem fazer reverência
Que se negam a pedir a “bença”,
Pois acreditam que imortal mesmo, só a poesia.

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