sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

A equilibrista


Houve o silêncio por um longo espaço de tempo, depois o medo, a curiosidade e o desejo.
O suar das mãos, o frio e o calor alternados por segundos,
Batimentos apressados,
E seu corpo, e seus sentidos já não pertenciam mais somente a ti.
Foi a primeira vez que entrou no picadeiro.
Embora frágil, embora assustada, ela enfrentou a plateia faminta pelo sucesso ou pelo fracasso,
Não haveria meios termos, ela sabia.
Mas de certa forma, o medo que sentia era algo vicioso.
Em verdade, o medo fomentava sua coragem.
Familiares, amigos e curiosos a observavam de longe, mesmo sem admitir, nenhum deles acreditava que aquilo pudesse vir a dar certo.
No entanto, ela não desistira sem tentar. Munida então de uma coragem nunca antes por ela experimentada que era ligada a importância que aquilo tinha em sua vida, ela então iniciou o ato...
... e encantou a todos! Caminhava sobre a corda bamba sem temer os próximos passos. E acreditem, de olhos vendados. Atirou-se no escuro, para o mais belo ato de sua vida, os riscos aumentavam a cada passo, mas estava fascinada por aquilo.
Chegando ao outro lado a euforia foi enorme. Nem mesmo ela sabia se concluiria o trajeto, a corda era inconstante e não foi fácil compreender suas oscilações.
Aplausos, gritos e assovios cobriam a jovem equilibrista de glória e realização.
Caminhou algum tempo deixando que a corda a levasse, conduzida pela intuição e fazia isso com tanta naturalidade que parecia realmente levitar.
E eis que de repente velhos sentimentos voltaram a rondá-la.
Houve o silêncio por um longo espaço de tempo, depois o medo, a curiosidade e o desejo...
Desejo de apagar todas essas dúvidas.
O suar das mãos, o frio e o calor alternados por segundo,
Batimentos apressados,
E seu corpo, e seus sentidos já não obedeciam mais.
Foi a última vez que entrou no picadeiro.
Dessa vez não havia confiança, não havia mais fascínio.
O encanto havia se quebrado ou se perdido em algum lugar
Tudo que restara eram as incertezas
A corda também estava cansada, pisoteada poderia não mais aguentar.
A plateia confiante já preparava os aplausos.
Ela entrou no picadeiro fez uma reverencia a todos, encarou a corda, e foi como se a mesma retribuísse o olhar. Era o momento das duas, se uma fracassasse a outra também falharia.
A equilibrista então vendou os olhos como na primeira vez e iniciou a performance.
Lançou-se outra vez no escuro da incerteza e desta vez não estava segura.
A cada passo, quanto mais ela forçava, mais a corda cedia e se enfraquecia, sabia que aquele atrito era provocado por seu corpo e questionou se levaria o ato adiante.
Havia duas opções ali, na metade do caminho: ir em frente, ou desistir.
E naquele momento ela soube que estava diante das piores escolhas que avida pode nos impor nos colocando entre o que amamos e o nosso amor próprio.


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