sexta-feira, 26 de janeiro de 2018

Vida nova

Acordar e levantar do sofá (porque a cama está cheia de coisas que ainda não arrumei após a mudança) tentando desviar das garrafas de cerveja, cartelas de comprimidos, pontas de cigarro e desilusões espalhadas por todos os cantos desse apartamento triste. Parece o cenário de uma ressaca pós noite de farra, mas é só mais um dia comum em minha vida, é só o retrato do que me tornei sem você, o retrato do que a sua ausência me tornou. E como todos os dias, faço aquele esforço hercúleo para tomar banho, vestir-me e sair às ruas para enfrentar mais um dia de batalha contra o mundo, onde tento aparentar estar bem, seguindo minha vida e superando a dor de não ter mais um lar, uma família, uma casa iluminada pela sua presença. A ninguém devo confessar o que sinto, as pessoas não gostam de tristeza. Assim, passo meus dias entre cigarros, cafés e choros escondidos nos banheiros dos lugares que frequento. À noite, quando sozinha naquele apartamento pequeno e desorganizado que jamais me pareceu digno de ser chamado de lar, nesse momento calmo e silencioso que eu costumava admirar, posso enfim externar toda dor que há em mim, longe dos olhos e dos julgamentos de pessoas que se dizem preocupadas com meu bem-estar, mas que só abrem a boca para me criticar e cagar regras sobre como devo viver. E assim, noite após noite, eu vou tentando matar você dentro de mim, afogando sua lembrança entre o álcool e as lágrimas, me odiando por ainda te amar tanto mesmo depois de todo o mal que me causou.

Minha missão agora não é mais esquecer, superar ou algo do tipo. Minha missão é aceitar que minha vida será essa e aprender a conviver com isso enquanto não crio coragem de por um fim nisso tudo.

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